domingo, 11 de dezembro de 2022

Discurso da formanda Alessandra

"O lavrador perspicaz conhece o caminho do arado."
Homenagem a Oscar Barboza Souto, antigo lavrador.
In Memoriam.

Discurso da oradora da turma, Alessandra Rocha Ribeiro Souto, na formatura de encerramento do Ensino Médio no C. E. Leonardo da Vinci, em 05/12/2021. 

De forma tardia, porém oportuna, incluo-o neste meu blog, para que a reflexão não cesse, jamais! 

Uma dúvida: será que meu modesto meio de expressão está a altura de conceitos, ideias e proposições tão relevantes? 

Uma certeza: meu ambiente de pensar e propor restará enriquecido com a excelência da lição de minha querida filha.

 

 

Senhores educadores, caros colegas, em nome de quem expresso minha saudação também a todas as autoridades, familiares e demais convidados

Boa noite a todos,

Eu gostaria de agradecer a oportunidade de representar os alunos. É uma honra gigantesca, um sonho e um privilégio imensurável. Aproveitando a deixa, nós não podemos esquecer: é um enorme privilégio poder estar aqui e ter a oportunidade de estudar em uma escola como o Leonardo da Vinci.

É fato que o colégio tem falhas, nenhuma instituição é isenta de críticas, nem de reparo – essa é inclusive a inesgotável tentativa humana, a do aperfeiçoamento –, mas uma coisa é certa: prá além de uma sólida formação acadêmica, o Leonardo nos proporcionou formação humana, e, ouso dizer, [capacidade de] reflexão crítica. Isso é perceptível ao se observar o nosso currículo, a excelência que é exigida dos profissionais e os eventos promovidos pela escola. E nada disso seria possível sem aqueles que, de fato, fazem o colégio acontecer e existir, enquanto instituição burocrática, mas também ente vivo, em constante transformação e evolução. 

É preciso agradecer, então, à equipe administrativa da escola. Foram eles os responsáveis por tornar real o sonho da educação, com a administração de todo o aparato que faz essa gigantesca máquina funcionar. É preciso agradecer também à equipe técnico-pedagógica, pelo trabalho fantástico que ela desempenha em prol da escola, dos alunos, dos professores, de manter a ordem em um grupo tão plural e diverso, e por isso mesmo tão caótico e inesperado. Foram essas pessoas que atuaram como mediadoras, organizadoras e, muitas vezes, mais que isso, amigas, e até mesmo como pais e mães dos alunos. Eles são os responsáveis por esse sistema exemplar de gestão de emergências, pedagogia e disciplina. Muito obrigada. Um muito obrigado também aos trabalhadores que mantêm a estrutura física da escola prá nós, a limpeza e a alimentação, a manutenção técnica e virtual, a guarda dos portões e corredores. A atuação de cada membro é essencial pra que o corpo escolar trabalhe em busca da homeostase, da coesão. É a interdependência dos integrantes que nos define como grupo e mostra que cada pequena fração é essencial pro todo, como estudamos na solidariedade orgânica de Durkheim, no 1º. ano [Émile Durkheim foi um psicólogo e sociólogo francês, considerado o fundador da sociologia, pelo fato de ter sido o primeiro a criar um método sociológico que distinguiu a sociologia das demais ciências humanas.]

Aproveitando esse conceito, chegamos aos nossos tão queridos professores. Existe um poema de Cora Coralina, em que ela faz uma adaptação de um trecho bíblico, já no primeiro verso: “Professor, sois o sal da terra e a luz do mundo.” Pensar nisso é de uma beleza poética inexcedível, e de uma grandiosidade existencial também: o mundo só não está cheio de despovoados por causa de vocês, diletos professores, já que toda a luz é também guia, e vocês nos guiam sempre. A capacidade de modificação e de atuação de vocês na vida dos alunos é monumental. São vocês que edificam o ser humano, do alicerce até o topo: é a vocês que é conferida a função de libertar. A condição humana plena depende, portanto, da existência de vocês. O falecido líder sul africano Nelson Mandela possui a conhecida frase de que “a educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo.” Cá estão vocês, munidos de nada menos que a possibilidade da viabilização do conhecimento, e é isto, e unicamente isto, que tem o mais radical poder de transformação da realidade. Obrigada por serem corajosos e dispostos a transformar. Eu peço desculpas por falar disto esta noite, mas, professores, saibam que, quando a Indesejada das gentes chegar prá cada um, apenas aquilo que havia de mortal em vocês se terá ido, porque vocês continuarão vivos, imortais e infinitos em todos nós que fomos seus alunos. 

Por fim (finalmente!) agora, somos nós, os que, como meu pai costuma falar, fazem a escola. Os alunos. Talvez nós tenhamos acabado de vivenciar o período mais mágico da nossa vida e, por bem ou por mal, a escola foi enorme parte disso. Anos tão confusos quanto os da adolescência, tão intensos, tão agridoces. Pensar em tudo que a gente viveu nesse colégio... a agitação de entrar numa sala desconhecida, como aluno novo, sem nenhum amigo; a ansiedade de apresentar um trabalho na frente da sala inteira; a felicidade de esperar pela aula preferida da semana; a diversão das conversas e da bagunça do fundão; a tristeza em chorar no banheiro ou levar seu amigo com você pra desabafar lá; os flertes no corredor com o “crush” da outra sala; a vergonha de cair na escada na frente de todo mundo na saída; a euforia de fazer o seu primeiro discurso na ONUVinci, como é denominada a exemplar simulação de eventos da ONU pelos alunos do Leonardo da Vinci; a animação com a chegada da OliVinci [a olimpíada esportiva anual] e a loucura de ganhar com sua turma; a curiosidade por trás do primeiro dia no laboratório; o nervosismo de fazer o primeiro simulado; a celebração em poder usar calça jeans e uniformes do ensino médio; a raiva também passada em tantos momentos; o alívio do último dia de provas; a emoção que era ver as fantasias do “terceirão” [denominação extraoficial do 3º ano do ensino médio] enquanto a gente ainda era do sexto ano e torcer pra algum dia ser como eles...

E agora olhar prá trás e ver que tudo isso já passou não mais que de repente, e que nós não só nos tornamos eles, o “terceirão”, mas também já passamos disso, já nos tornamos adultos, formados, sem mais escola e esses fenômenos que eu acabei de contar. É uma sensação devastadora, nostálgica, mas muito feliz também. A nossa vida aconteceu e foi construída no Leonardo — [envolvendo] todas as nossas metamorfoses. Apesar dessa transição tão séria, é preciso que nós nunca deixemos os nossos sonhos de quando éramos crianças morrerem. 

A grandeza da juventude, que é a importância de se enxergar relevante pro mundo, constitui a nossa essência que se constrói enquanto ainda somos jovens. Sim, porque apesar de todos estarmos formando no mesmo ponto e termos influências em comum ao nosso redor, a nossa reação, o nosso enfrentamento e o nosso poder de realização fazem a diferença e criam uma vivência única prá cada um, de tal sorte que a autenticidade do ser é elevada ao máximo. E nós nos encontramos aqui celebrando tudo que aprendemos, percorremos e alcançamos, encerrando essa jornada estupenda, e indo agora em direção um novo e desafiador caminho que nos aguarda – o do próprio mundo. 

É necessário, é imperioso que esse mundo seja um lugar melhor depois de nós, como resultado de nosso pensamento e de nossas ações. Como futuros professores, artistas, cientistas, ativistas, todos nós podemos mudar o mundo. É graças ao que a escola nos possibilitou que nós vamos ser os criadores e transformadores da Terra, não mais presos ao nosso microcosmo ou a nossa realidade, mas podendo alcançar limites muito além. Nós temos, por conta disso, a responsabilidade pelo mundo, não apenas pelo dever de fazer dele um lugar melhor, mas pela necessidade de fazê-lo assim. Claro, temos que agradecer aos professores e profissionais do colégio porque é devido a eles que nós temos vários e novos modos de mudar esse mundo, e chance extremamente prolíficas. Nós temos de continuar estudando, trabalhando e fazendo o nosso melhor, por eles e por nós, sem desistir ou deixar de tentar. Por um único motivo: porque a frase proferida por Stephen Hawking “Não importa quanto a vida possa ser ruim, sempre existe algo que você pode fazer, e triunfar. Enquanto há vida, há esperança.” é algo que desde sempre os nossos professores tentaram nos mostrar.

Assim, cada um de nós, com seus esforços para chegar até aqui e passar prá uma etapa tão importante da vida, ratifica a ideia de que a vida escolar e o aluno são muito mais que suas notas. As emoções vividas, a determinação, a coletividade e a união mantêm o que somos e nos guia para o que nos tornaremos, para o que desejamos ser e para o descobrimento de qual é a nossa função nesse mundo tão vasto. É com base nessa tentativa vitalista “camusiana” de determinarmos nós mesmos as rédeas da nossa amplidão que eu friso a importância de nos mantermos jovens, porque é assim que nós vamos transformar. Que nunca percamos, portanto, essa essência do estudante, do jovem idealista, romântico e inovador que quer transformar o mundo.

Eu vou sentir muita a falta de vocês, nós tivemos um tempo maravilhoso juntos. Uma menção honrosa aqui para Laura, Cecília [as irmãs] que me apoiam sempre, e prá meu pai e minha mãe, que também o fazem e viabilizaram as condições para que eu estivesse aqui. Obrigada por não deixarem de acreditar em mim. Muito obrigada a todos!

 

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