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O objetivo deste texto é apresentar três sugestões para temas de filme nacional de cunho histórico, envolvendo personagens relevantes para a nacionalidade brasileira. É razoável asseverar que a filmografia histórica de nosso País é pobre ou pelo menos insuficiente. Há, pois, uma demanda a ser explorada, com reflexos positivos para todos os cidadãos e, especialmente para a juventude.
Os temas em consideração estão relacionados com os seguintes personagens:
– Johann de Graaf (Johnny);
– Rosa da Fonseca; e
– Ricardo Franco.
[1] Johnny
Esse personagem permeou a periferia da história, a bordo de espionagem, na Alemanha, Romênia, União Soviética, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Brasil. Com um nome que lembra Bach ou Mozart — Johann Dietrich Amadeus de Graaf — em sua vida tão plena de diversidade, utilizou mais de 60 pseudônimos, mas notabilizou-se como Johnny. A curiosidade em torno de Graaf se impõe por seu papel na relevante vitória brasileira contra o comunismo em 1935 e, em paradoxo incrível, por quase ter morrido, em face de tortura supostamente praticada pela polícia de Getúlio Vargas.
O americano R. S. Rose e o canadense Gordon D. Scott — PhD e escritor, respectivamente — publicaram em 2010 o livro biográfico “Johnny”. O relato da vida de Johnny daria um filme extraordinário. A ideia fundamental está na disposição do personagem de combater — durante a vida inteira, com o risco iminente da própria vida — os dois grandes autoritarismos que vicejaram no mundo, o nazismo e o comunismo.
O contexto da longa vida de Johnny constitui pano de fundo extraordinário para uma obra cinematográfica e inclui, entre outras, as seguintes circunstâncias: as peripécias de um agente duplo em favor da liberdade e da verdade, nas lides da espionagem; a contribuição para as derrotas de ideologias hediondas; os assassinatos cometidos para salvar a própria vida; os contatos com altas autoridades; e a diversidade de países onde atuou.
[2] Rosa da Fonseca
A notável figura da Sra. Rosa da Fonseca nos remete à possibilidade de um magnífico tema para cinema. Ela foi mãe de 10 filhos, sendo 8 homens e 2 mulheres. Os homens se destinaram à carreira militar e 7 participaram da Guerra do Paraguai. Posteriormente, eles se notabilizaram por se tornarem presidente da República — o Marechal Deodoro da Fonseca —, governador de Estado, e general; e três oficiais de média patente, que perderam a vida na guerra do Paraguai. Um neto da Sra. Rosa da Fonseca também foi presidente da República, o Marechal Hermes da Fonseca.
No que concerne à participação dos filhos da Sra. Rosa da Fonseca na guerra do Paraguai, o alferes Afonso Aurélio morreu aos 21 anos de idade na batalha de Curuzu. O capitão Hipólito tombou na sangrenta batalha de Curupaity. O major Eduardo Emiliano da Fonseca morreu na batalha de Itororó. Nessa mesma batalha, feriram-se Hermes e Deodoro. Ao tomar conhecimento da morte do terceiro filho, teria adotado uma postura formal e orgulhosa, e dito: “Sei o que houve. Talvez até Deodoro esteja morto, mas agora é ocasião de gala pela vitória; depois, chorarei a morte deles”. Subsequentemente, recolheu-se para o quarto, para chorar compulsivamente durante um longo tempo.
Seria extraordinário que o filme girasse sobre a apresentação dos filhos no contexto de suas respectivas atividades, com a caracterização da influência da mãe para que cada um agisse dessa ou daquela maneira.
[3] Ricardo Franco
Para caracterizar a terceira sugestão, vou tecer extensas considerações preliminares para contextualização e justificativa dessa opção.
No final da década de 1970, por ocasião da graduação em Engenharia no Rio de Janeiro, li uma curta notícia no Globo relatando que Artur C. Clarke vinha afirmando que jamais escreveria a continuação do livro “2001, uma Odisseia no Espaço”, porém mudara sua decisão em face da sugestão de um cidadão carioca que enviara um resumo de roteiro com as ideias básicas para a continuação da obra. Então, ele escreveu um segundo livro, depois transformado em filme, sobre a mesma temática, com o título “2010, a Odisseia Continua”. Pensei com meus botões: será que foi isso mesmo? Será que vivendo sua vida em reclusão na ilha de Colombo, no litoral da Índia, o caboclo se disporia a ler a correspondência de um obscuro brasileiro e aceitaria alterar o que prometera de forma recorrente?
Ao terminar o curso de Engenharia, fui classificado na Comissão Regional de Obras/12, em Manaus. Ao ser designado, como habitualmente ocorria, para uma missão de 15 dias, no Pelotão de Fronteira de Palmeira (às margens do rio Javari, na fronteira com o Peru), comprei o segundo livro do Artur C. Clarke. Foi bom e não foi. Comecei a ler o livro ao embarcar, em Manaus, na aeronave Búfalo, da Força Aérea Brasileira. Seis horas mais tarde, ao chegar em Palmeira, depois de uma escala em Tabatinga, tinha concluído a leitura do livro. Portanto, passei as duas semanas da missão sem ter o que ler. Com surpresa, quando lia as páginas de agradecimento do livro, constatei que Clarke atribuíra a um brasileiro a bela sugestão que o motivou a escrever a continuação da Odisseia.
Por volta de 2002, tentando imitar o cidadão carioca que apresentou a sugestão a Artur C. Clarke, cogitei de enviar para o Fernando Meireles (diretor do filme “Cidade de Deus”, que foi indicado para o Oscar), uma sugestão de ideias básicas para um filme sobre a epopeia do português Ricardo Franco de Almeida Serra.
Como militar e engenheiro, Ricardo Franco fora responsável pela duplicação da Universidade de Coimbra. Por sua elevada qualificação, também como agrimensor, foi designado por Dona Maria I, rainha de Portugal, para a demarcação de limites entre as terras portuguesas e espanholas no Brasil, como consequência do Tratado de Santo Ildefonso. Em suas expedições ciclópicas pela região Norte, Ricardo Franco construiu o Forte Príncipe da Beira. Subsequentemente, construiu o Forte Coimbra, que comandou e defendeu com heroísmo, contra as superiores tropas espanholas. Ricardo Franco morreu durante o comando do Forte Coimbra, onde foi sepultado. Ele seguramente pertence ao universo dos que garantiram a extensão territorial de nosso País continental.
Optei por elaborar as ideias básicas de um filme sobre o Ricardo Franco, motivado também por uma razão singular. Aí pelos idos de 1970, Akira Kurosawa, o maior diretor de cinema japonês, estava em processo depressivo e decidiu que, após terminar o filme “Dersu Uzala”, tiraria a própria vida. A obra versa sobre as façanhas de um capitão engenheiro russo em demarcação de terras na Sibéria e sobre o velhinho notável que fora encontrado na floresta, e que o apoiou decisivamente em sua missão. O filme “Dersu Uzala” ficou tão bom que Kurosawa desistiu de acabar com a vida. Ora, a epopeia de Ricardo Franco permitiria uns três filmes do porte da magnífica película de Kurosawa sobre o explorador russo.
Já tinha alinhavado umas 10 páginas com um arremedo de proposta de roteiro, quando tive contato com um amigo conhecedor de arte cinematográfica e lúcido suficientemente para, à luz do bom senso, lógica e razão, me demover da iniciativa de enviar a sugestão para o premiado diretor brasileiro. Segundo esse especialista, nenhum diretor se interessaria por um tema histórico e envolvendo personagens militares. Desisti e, numa ação reveladora de imaturidade, destruí o texto e dei-lhe o destino das coisas imprestáveis.
Enfim, enfatizando a proposta dos temas cogitados, entendo que os participantes do campo da cultura e da intelectualidade possuem duas dívidas: a primeira por não terem explorado as vidas do Johnny, da Rosa da Fonseca e do Ricardo Franco em literatura e cinema; a segunda por terem privado a sociedade de um conhecimento mais amplo das epopeias que esses notáveis personagens vivenciaram, com incomuns disposição e grandeza.
Os poucos que leram este texto até aqui (será que existe pelo menos um?), certamente perceberam que misturei abacate com ‘quilovate’, ambos associados com energia não sonora. Se for o caso, formulo um efusivo pedido de desculpas. Nesses tempos complexos da pandemia do coronavírus, foi um bom exercício para passar o tempo em isolamento — e por certo é antidepressivo.
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E. L. S.
ResponderExcluirA sugestão histórica do trabalho de Ricardo Franco de Almeida Serra é de grande valia pois levará a explorar além do trabalho feito na quase milenar Universidade de Coimbra no continente europeu, já em terras ultramar em pleno século XVIII, adentrar na Amazônia Ocidental e as margens do Rio Guaporé coordenar os trabalhos realizados na construção de uma Fortaleza, que serviu de parâmetros na fixação das fronteiras do então Alto Peru. Mais tarde, a escolha da localização na margem direita do rio Paraguai, já no Pantanal sul o ponto estratégico do Forte Coimbra, assegurando a fronteira seca com a Bolívia até a lagoa Uberaba.
Excelente observação, caro amigo.
ExcluirA. C.
ResponderExcluirEsse é o meu intelectualmente irriquieto grande amigo Ribeiro Souto. Parabéns, amigo...
PS: li tudo com atenção, deveria ter iniciado pelo último parágrafo. rsrsrsrs
A. R. S.
ExcluirGenerosidade e bom humor, como sempre!
T. V.
ResponderExcluirExcelente texto, Gen! Cheguei a imaginar algumas cenas dos filmes. Parabéns!
A. R. S.
ExcluirObservação gentil de um aficcionado da sétima arte!
A. R. S. Jr.
ResponderExcluirTio, seus textos são sempre ricos em informações e um alento, absorvo-os com muita admiração. Um grande abraço.
A. R. S.
ExcluirQue bom que você tenha gostado Jr! Obrigado pelo incentivo elegante!
J. B. C.
ResponderExcluirBelas sugestões, mas em país que faz filme sobre Lamarca, de uma imprensa que chama de assassinato uma troca de tiros em uma ação policial e desconhece os heróis que lutaram contra ele e seus comparsas, dificilmente suas sugestões serão aceitas. Abçs
A. R. S.
ResponderExcluirConstatação precisa. É uma realidade que preocupa. A conscientização é um primeiro passo para a ação requerida.