segunda-feira, 27 de junho de 2022

Entrevista sobre educação

Revendo antigos arquivos digitais, encontrei um vídeo gravado em 2018, relativo ao trabalho de um grupo de alunas do 9º ano do ensino fundamental, ao qual pertencia minha filha Cecília. O trabalho consistiu em uma série de entrevistas sobre os campos educação, ciência & tecnologia e meio ambiente. A mim coube a entrevista atinente ao tema educação. Com satisfação — e até mesmo nostalgia, uma vez que as integrantes do grupo encontram-se cursando o primeiro ano da universidade — reproduzo a entrevista que concedi para Cecília.

 

 

Cecília. Como tornar a universidade acessível para os estudantes de famílias pobres — sejam eles brancos, negros, índios, homossexuais e outros — mantendo-se o valor do mérito como mecanismo essencial de progresso e evolução?

Aléssio. Cecília, muito obrigado pela oportunidade e pelo privilégio de me dirigir aos seus telespectadores nessa questão fundamental da sociedade brasileira, a educação. Comecemos pelo fim. O mérito é um privilégio da condição humana; e mais, o mérito é uma virtude da condição humana. Então, o acesso às turmas subsequentes e o acesso à universidade deve ser sempre por mérito. As pessoas mais pobres, que estão submetidas a condições educacionais insatisfatórias, precisam receber atenção especial do governo em duas direções. Em primeiro lugar, o governo deve atuar para corrigir as falhas do sistema educacional público; e adequá-lo às mesmas condições das melhores unidades educacionais do setor privado e, também, de umas poucas e diferenciadas unidades do setor público. A outra atitude e ação do governo deve levar em conta que a correção de mazelas do sistema educacional leva muito tempo; e como o problema requer urgência, o governo precisa criar mecanismos de reforço das aulas para os estudantes de famílias desfavorecidas; não importando se brancos ou negros, gays ou não gays, homem ou mulher ou quaisquer outras diferenças. É fundamental que haja essa ação do governo para corrigir e mitigar as falhas existentes.

Cecília. De acordo com a avaliação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), a educação brasileira ocupa uma das piores posições dentre os países membros ou parceiros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Quais são as três medidas que devem ser adotadas para melhorar a nossa educação?

Aléssio. Preliminarmente, é razoável lembrar que há um percentual, embora pequeno, de escolas brasileiras, cujos estudantes têm um bom desempenho na avaliação do PISA. Para que o Brasil tenha uma melhoria na avaliação do PISA, eu recomendo que o governo e a sociedade atribuam à educação, prioridade máxima, em detrimento dos demais campos da gestão pública; a segunda medida é a valorização dos professores; a terceira medida é a complementação do ensino para os estudantes oriundos de famílias de baixa renda. Essas três medidas são fundamentais, podem ser adotadas e, se adotadas, melhorarão a classificação do Brasil nesse importante mecanismo de avaliação mundial de estudantes.

Cecília. Nos países com elevado nível educacional, os professores são muito valorizados. O que deve ser feito para a valorização dos professores brasileiros?

Aléssio. Precisamos transformar o magistério e a profissão do professor em uma das mais importantes do setor público, no mesmo nível do pessoal que pertence, entre outras instituições, ao Banco Central, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional. A segunda ação é a melhoria dos padrões salariais dos professores. O professor tem que ter a consciência de que ele é bem pago e de que ele está entre os melhores funcionários do setor público. Evidentemente, na universidade, a formação do professor tem que ser consentânea com essa condição de importância que a sociedade deve atribuir aos professores. Depois que o profissional ingressa no magistério público, ele precisa de treinamento sucessivo, continuado e periódico, de tal sorte que ele esteja sempre nas melhores condições de transmitir o conhecimento para os seus alunos, bem como tenha inequívoca confiança dos estudantes. Finalmente, eu assevero que o professor não pode entrar em greve. Por óbvio, ele tem o direito expresso em lei para fazer greve. Mas a interrupção das aulas por causa de greve é um grave problema do sistema educacional. Ora, professor valorizado, reconhecido e bem remunerado não precisa entrar em greve para reivindicar seus direitos. É assim que vejo a problemática de valorização dos professores. Enfim, os professores devem ser respeitados, admirados, até porque eles devem estar entre os melhores de cada geração. 

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