Revendo antigos arquivos digitais, encontrei um vídeo gravado em 2018, relativo ao trabalho de um grupo de alunas do 9º ano do ensino fundamental, ao qual pertencia minha filha Cecília. O trabalho consistiu em uma série de entrevistas sobre os campos educação, ciência & tecnologia e meio ambiente. A mim coube a entrevista atinente ao tema educação. Com satisfação — e até mesmo nostalgia, uma vez que as integrantes do grupo encontram-se cursando o primeiro ano da universidade — reproduzo a entrevista que concedi para Cecília.
Cecília. Como tornar a universidade acessível para os estudantes de famílias pobres — sejam eles brancos, negros, índios, homossexuais e outros — mantendo-se o valor do mérito como mecanismo essencial de progresso e evolução?
Aléssio. Cecília, muito obrigado pela oportunidade e pelo privilégio de me dirigir aos seus telespectadores nessa questão fundamental da sociedade brasileira, a educação. Comecemos pelo fim. O mérito é um privilégio da condição humana; e mais, o mérito é uma virtude da condição humana. Então, o acesso às turmas subsequentes e o acesso à universidade deve ser sempre por mérito. As pessoas mais pobres, que estão submetidas a condições educacionais insatisfatórias, precisam receber atenção especial do governo em duas direções. Em primeiro lugar, o governo deve atuar para corrigir as falhas do sistema educacional público; e adequá-lo às mesmas condições das melhores unidades educacionais do setor privado e, também, de umas poucas e diferenciadas unidades do setor público. A outra atitude e ação do governo deve levar em conta que a correção de mazelas do sistema educacional leva muito tempo; e como o problema requer urgência, o governo precisa criar mecanismos de reforço das aulas para os estudantes de famílias desfavorecidas; não importando se brancos ou negros, gays ou não gays, homem ou mulher ou quaisquer outras diferenças. É fundamental que haja essa ação do governo para corrigir e mitigar as falhas existentes.
Cecília. De acordo com a avaliação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), a educação brasileira ocupa uma das piores posições dentre os países membros ou parceiros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Quais são as três medidas que devem ser adotadas para melhorar a nossa educação?
Aléssio. Preliminarmente, é razoável lembrar que há um percentual, embora pequeno, de escolas brasileiras, cujos estudantes têm um bom desempenho na avaliação do PISA. Para que o Brasil tenha uma melhoria na avaliação do PISA, eu recomendo que o governo e a sociedade atribuam à educação, prioridade máxima, em detrimento dos demais campos da gestão pública; a segunda medida é a valorização dos professores; a terceira medida é a complementação do ensino para os estudantes oriundos de famílias de baixa renda. Essas três medidas são fundamentais, podem ser adotadas e, se adotadas, melhorarão a classificação do Brasil nesse importante mecanismo de avaliação mundial de estudantes.
Cecília. Nos países com elevado nível educacional, os professores são muito valorizados. O que deve ser feito para a valorização dos professores brasileiros?
Aléssio. Precisamos transformar o magistério e a profissão do professor em uma das mais importantes do setor público, no mesmo nível do pessoal que pertence, entre outras instituições, ao Banco Central, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional. A segunda ação é a melhoria dos padrões salariais dos professores. O professor tem que ter a consciência de que ele é bem pago e de que ele está entre os melhores funcionários do setor público. Evidentemente, na universidade, a formação do professor tem que ser consentânea com essa condição de importância que a sociedade deve atribuir aos professores. Depois que o profissional ingressa no magistério público, ele precisa de treinamento sucessivo, continuado e periódico, de tal sorte que ele esteja sempre nas melhores condições de transmitir o conhecimento para os seus alunos, bem como tenha inequívoca confiança dos estudantes. Finalmente, eu assevero que o professor não pode entrar em greve. Por óbvio, ele tem o direito expresso em lei para fazer greve. Mas a interrupção das aulas por causa de greve é um grave problema do sistema educacional. Ora, professor valorizado, reconhecido e bem remunerado não precisa entrar em greve para reivindicar seus direitos. É assim que vejo a problemática de valorização dos professores. Enfim, os professores devem ser respeitados, admirados, até porque eles devem estar entre os melhores de cada geração.
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