sexta-feira, 30 de julho de 2021

Dissonância e transformações

Aponto três eventos dissonantes no tempo e no conteúdo, porém, com interesse para alguns ou para muitos cidadãos, como prévia para formular indagações de interesse das próximas gerações.

Evento tecnológico. Em 2018, cinquenta anos foram completados da proposta em que, em uma série de ensaios, J. C. R. Licklider imaginou a Internet, que ele chamou de uma “rede de computadores intergaláctica”. Logo depois, sua equipe foi contratada pela Advanced Research Project Agency (ARPA), do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, para desenvolver a ARPANET, a pioneira rede de Internet no mundo.

Evento pessoal. Em 2018, três adolescentes optaram por celebrar o aniversário de quinze anos em Paris. Uma delas pediu ao pai para visitar uma Universidade e uma livraria. Quando passavam pela Saint Germain de Près, decidiram dar uma passada na Sorbonne. Curiosamente, deram em um pavilhão, onde estava ocorrendo um coquetel, com a celebração do final do ano letivo do curso de Medicina. Inicialmente, os dois foram convidados para participar; contudo, algum tempo depois, um dos organizadores descobriu os invasores e os retirou do ambiente. Eles saíram rápido e passaram por uma rua onde muitos alunos estavam espalhados, fumando crack e consumindo drogas. Apressaram o passo e, com a respiração ofegante, retornaram para a via principal e entraram em uma livraria. A moça queria verificar se havia livros de autores brasileiros. Pois, encontraram um livro do Sr. Fausto, em francês. Esse cientista social tem méritos para ter seus livros espalhados pelo mundo todo, entretanto, havia indicação de que o projeto de publicação teria sido bancado com recursos públicos, uma prática condenável e, não raro, utilizada por artistas e intelectuais (no âmbito dos projetos Rouanet da vida — agora, restringidos pelo atual governo).

Evento político. Hoje, o Sr. Sérgio Fausto, diretor da Fundação FHC, publicou no Estadão o artigo “É importante dar um sinal de unidade no campo democrático”, em que defende um canal de diálogo entre PT e PSDB, sob a alegação de que é cético quanto à competitividade de nomes do centro.

É razoável a união entre o PT e o PSDB. Afinal, o passado esquerdista de FHC guarda sólida convergência com o passado similar de Lula — que fique cristalino, indivíduos há que chamam de pseudo esquerdismo, dado que FHC pediu que “esqueçam o que escreveu antes”; e Lula é acusado de interagir de forma condenável com empresários quando era operário [a rigor, eles confirmam o que declarou o socialista Bertold Brecht: “Quem luta pelo socialismo tem de poder lutar e não lutar; mentir e não mentir; prestar serviços e negar serviços; manter a palavra e não cumprir a palavra ...; mas sobretudo tem que lutar pelo socialismo”]. Ademais, o primeiro teria adquirido a reeleição com abordagem escusa; e o outro tem nos ombros a liderança do Mensalão e do Petrolão. Acresça-se que o FHC é líder intelectual do Foro de São Paulo e Lula é o nefasto construtor dessa excrescência.

 

Da conjugação dos três eventos aqui mencionados, cabe uma série de indagações de natureza futurista, concernentes a 2033, quando as moças mencionadas completarem 30 anos.

Quem estará prevalecendo no Brasil: os liberais conservadores, a partir de vitórias sucessivas nas próximas três eleições presidenciais ou os esquerdistas, com o retorno de práxis estabelecida a partir da eleição presidencial de 1995, em longo período, no qual FHC e Lula se alternaram, digladiaram-se, contemporizaram-se e corromperam-se? 

O governo brasileiro estará concedendo prioridade absoluta para Educação e para suas interações com Ciência & Tecnologia e corporações industriais?

As políticas e ações atinentes à Amazônia estarão — com reconhecimento unânime — satisfazendo à trindade: proteger, preservar e desenvolver?

As políticas e ações para o Nordeste terão atingido a meta de inserir aquela região na média de desenvolvimento e IDH do restante do País?

E mais, em 2033, no mundo ...

Os computadores dotados de inteligência artificial estarão se comunicando, dialogando, transmitindo ordens, brigando, enfim, estarão tomando decisões e agindo?

Os veículos serão majoritariamente autônomos?

Estarão em utilização quantidades equivalentes de veículos terrestres e veículos voadores?

Os cientistas estarão obtendo vida animal a partir da evolução da vida vegetal?

Os seres humanos machos estarão gerando vida à semelhança das fêmeas?

Os transplantes com órgãos artificiais substituirão os transplantes com órgãos naturais?

A recuperação contra doenças e a modificação de características de nascituros por razão estética, por alteração genética — de tal sorte que haja a possibilidade de transmissão, por hereditariedade, da alteração correlata —, será permitida, em detrimento de aspectos éticos e morais?

Os alimentos artificiais estarão substituindo os alimentos naturais?

O homem terá pousado em Marte?

Alguma espécie de vida alienígena terá sido identificada?

Eu mesmo ou qualquer leitor — se é que algum há, com a resiliência doida de cometer o desplante de ler até aqui — estará neste mundo para responder a essas questões?

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[Divulgado no Estadão online de 30/Jul/2021]

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