terça-feira, 10 de agosto de 2021

Expansões estratégicas iranianas e chinesas


O que é mais impactante: a sempre negada tentativa iraniana de construir a bomba atômica ou a inexplícita expansão militar chinesa, sobretudo, com o aumento de silos para mísseis e artefatos nucleares e outras infraestruturas bélicas?

 

No caso do Oriente Médio, o petróleo — ativo fundamental no século XX e ainda com importância nos tempos atuais — deve ser considerado sempre.

 

1.  Em relação ao Irã, grande produtor de petróleo, ressalto o seguinte:

1.1.      Os iranianos (antes persas) estão por ali há mais de 4000 anos, foram potência regional e rivalizaram com os gregos, por volta de VI a IV a. C. Portanto a manutenção e até expansão territorial pesa muito. Eles têm consciência e excessivo orgulho disso; e lutam para permanecer e, especialmente, para ter relevância política, geoestratégica, militar e econômica.

1.2.      Nos últimos tempos seus grandes rivais (às vezes, inimigos) são Israel e Arábia Saudita.

1.2.1.    Na disputa com os sauditas, o fundo religioso é importante, além do petróleo e influências locais de toda ordem. Os sauditas são muçulmanos sunitas (cerca de 1,7 bilhões no mundo) e os iranianos são muçulmanos xiitas (cerca de 200 milhões no mundo, sendo o Irã o maior país dessa vertente). Com frequência, sunitas matam xiitas e vice-versa. O Irã tem vaga no Parlamento para sua minoria judia, mas prega abertamente a destruição de Israel.

1.2.2.    Israel também tem forte apelo territorial, que remonta à antiguidade. Afora, as disputas e dependências em relação aos romanos (o que aponta a história de Jesus Cristo), há citações históricas referentes a israelenses na Babilônia, no Egito. Em meados do século XX, os judeus estavam espalhados por todo o mundo. Em 1949, a ONU deliberou pela criação do Estado de Israel. Uma parcela de judeus se dirigiram para o Oriente Médio. Uma sequência de guerra contra os vizinhos foi travada e vencida; e os israelenses prevaleceram heroicamente.

1.2.3.    Atualmente, Israel tem poder econômico, político, tecnológico e militar, aí incluída a posse não declarada da bomba atômica. 

1.3.      Deve ser lembrado que o Irã é cercado por países detentores de bomba atômica (Israel, Paquistão, China e Rússia — havendo países tampões entre cada um e Irã). 

1.4.      Dito isso, a posse de artefato atômico é objetivo nacional hiper-permanente do Irã, faça chuva ou sol, acordo ou não acordo. A projeção de poder do Irã não pode contemplar as Américas, a Europa, a Rússia, a Austrália, etc.

2.  No que diz respeito à China, os seguintes aspectos são relevantes:

2.1.      Os chineses foram potência regional desde a Antiguidade. Em 1500, tinham caravelas 5 ou mais vezes maiores do que as de Cabral e Colombo.

2.2.      A partir do século XVIII (ou antes ou depois, a confirmar), eles tiveram influência indesejada (às vezes, forçada) de britânicos, russos e japoneses.

2.3.      Graças a um cientista que fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, tornou-se proponente pioneiro do primeiro laboratório de jato propulsão do mundo (o Jet Propulsion Lab, instalado entre as décadas de 1930 e 1940 e até hoje em funcionamento), tornou-se coronel do Exército americano (para entrevistar cientistas nazistas, após a 2ª Guerra Mundial); por espionagem, perdeu a patente e foi preso. Na troca de prisioneiros após a guerra da Coreia, foi incluído na troca, voltou para a China e tornou-se pai dos projetos espaciais e de mísseis intercontinentais chineses (os quais — várias dezenas — estão apontados para os Estados Unidos).

2.4.      Após a 2ª Guerra Mundial e após a implantação do comunismo, os chineses fizeram aliança com os soviéticos, com acordos científicos-tecnológicos e militares. O objetivo era desenvolver armamentos atômicos para fazer face aos americanos. Em 1959, os soviéticos negaram o que prometeram, mas eles tinham um projeto secreto paralelo à parceria com os vizinhos do norte e conseguiram o domínio e explosão das bombas A (de plutônio ou urânio) e H (de hidrogênio), tendo levado menos tempo para passar de uma para outra, em relação a americanos, soviéticos, franceses e britânicos (únicas potências que possuíam ambas).

2.5.      A partir da década de 1970, os chineses alteraram a evolução econômica e adotaram uma espécie de capitalismo de Estado. A meta muito clara era tornar-se a maior potência econômica do mundo.

2.6.      Como deram prioridade absoluta para Educação e Ciência e Tecnologia, a consequência natural foi o desejado crescimento do poderio militar. 

2.7.      Aparentemente, as parcerias dos chineses no mundo inteiro têm prioridade no campo econômico, sobretudo pela crítica demanda de alimentos e petróleo — nesse sentido, eles agem de forma estratégica em 6 vertentes ou direções: Estados Unidos, Europa e Rússia; América do Sul/Central, África e Ásia (complementado pela Austrália).

3.  De posse desses dados antecedentes, passo agora à tentativa de resposta à indagação relativa ao que é mais impactante: a nova conjuntura política iraniana ou os novos silos da China? 

Em minha limitada visão:

3.1.      Qualquer que seja a orientação política do Irã, eles sempre buscarão o status de potência regional mediante o desenvolvimento da bomba atômica, sem acordo e diálogo com o Ocidente OU COM ACORDO E DIÁLOGO COM O OCIDENTE.

3.2.      Os iranianos enfrentam muitas dificuldades pelo bloqueio econômico e tentam criar situações que possam caracterizar a relevância deles na questão do transporte do petróleo e no apoio aos palestinos, sírios e libaneses, entre outros.

3.3.      Os chineses — desde Mao Tse Tung, Deng Shiao Ping e até o atual dirigente — sempre tiveram o objetivo de buscar o status de potência global (que eles consideram que historicamente foram; além do que humildemente e, sem abrira a boca, consideram-se superiores aos demais povos).

3.4.      Os chineses precisam dos iranianos por causa do petróleo, porque precisam de aliado no Oriente Médio, porque convém apoiar um adversário dos Estados Unidos e porque precisam neutralizar eventual apoio aos uigures, muçulmanos do noroeste do país (e a solução é a parceria com o maior fomentador, o Irã). 

3.5.      Colocado dessa maneira, constata-se que as indagações que motivaram esta resenha — o impacto, o risco e as ameaças colocadas pelo desenvolvimento nuclear iraniano e pela expansão do poderio estratégico chinês — são questões distintas. O Irã pode representar uma ameaça regional, vale dizer, qualquer mudança de orientação política no Irã pode ser explosiva no âmbito regional. A China pode representar uma ameaça global e o aumento do poderio militar — cuja prioridade é menor do que a prioridade do campo econômico — pode ser explosiva no âmbito global. 

3.6.      É razoável inferir que os chineses buscam se fortalecer no âmbito militar e têm o objetivo de obter a paridade com os Estados Unidos, porém, tentam evitar conflitos e dão prioridade para o campo econômico. Por certo, buscam satisfazer o que consideram um determinismo histórico.

3.7.      Já os iranianos buscam a prevalência entre os grandes do Oriente Médio — atualmente, Israel e Arábia Saudita — bem como, igualmente, estar em consonância com o que julgam ser seu determinismo histórico.

3.8.      Complementaria asseverando que a China é uma enorme e terrível ameaça aos interesses brasileiros. A dependência de europeus e americanos é muito mais palatável do que a dependência em relação a chineses — o que está evoluindo de forma impensável e indesejável, à luz da atuação desastrosa de alguns de nossos governadores.

 

Å Å Å

 

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