Passado pouco tempo da eleição da atriz Fernanda Montenegro para a Academia Brasileira de Letras (ABL), em novo pleito controverso, o cantor Gilberto Gil também foi investido na condição de imortal daquela instituição que reúne as mais destacadas figuras da literatura brasileira.
Nesse contexto, temos atrizes e cantores tão magistrais, a ponto de agora a inefável ABL contar com dois integrantes dessa estirpe. A dúvida e a dívida que hesitam em se calar: e escritores, temos? Caso existam, são ultrapassados por insuficiência de qualificação para concorrer ou porque notório saber não sensibiliza os respectivos eleitores, aí incluídos os acadêmicos ad hoc?
Surgiram justificativas candentes para as investiduras da senhora Montenegro e do senhor Gil — por exemplo, as escolhas do cirurgião Ivo Pitanguy, do magnata Roberto Marinho e do político José Sarney para a ABL. E também a láurea do cantor Bob Dylan, em 2016, com o Nobel de literatura.
Desconheço o estatuto da ABL. A questão fundamental: a norma permite o ingresso, na Academia, de notáveis da Medicina, das Comunicações, da Política e da Arte Teatral, Cinematográfica e Musical, em detrimento de escritores em sentido estrito? Queira notar que grafei os campos do saber com maiúscula, para reafirmar o respeito que tenho pelos respectivos integrantes, independentemente de seus vícios e virtudes.
Por empatia, a seguinte indagação ficaria muito adequada na mente de Sócrates: "afinal, uma coisa é uma coisa e outra coisa é também uma coisa?" A resposta pode ser encontrada em Platão, Aristóteles, Hobbes, Locke, Marx e Adam Smith. Com esses, já dá para formular a introdução da resposta.
Houve um questionamento atinente à expressão "independentemente de seus vícios ...". Um interlocutor desejava saber se os vícios diziam respeito a Sarney, a Roberto Marinho ou a Ivo Pitanguy.
Apenas cogitações devem ser consideradas:
- o IDH e os valores da classe política do Maranhão;
- a contribuição das Organizações Globo para a cultura nacional (apenas para reflexão, convém lembrar que milhões de brasileiros deixaram de sintonizar a rede "seja lá o que for"); e, finalmente,
- o excesso de virtudes do Pitanguy e suas contribuições para o bem-estar do ser humano.
Tudo meio paradoxal, meio ‘nonsense’. Convém análise à luz da lógica, da razão e de procedimentos civilizados, com serenidade, calma e elegância!
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[Divulgado no Estadão online de 11/Out/2021]
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