domingo, 26 de setembro de 2021

Mas quem é mesmo o Johnny?

VER TAMBÉM

Sugestões de temas para filmes nacionais

[Dê um clique]

 

 

  – Generalidades                                   – Missões Manchúria e China

  – A origem                                            – Missão Brasil – I

  – Marinheiro mercante                        – Missão Argentina

  – Marinheiro naval                              – O grande terror

  – Presidiário em Osowiec                    – Missão Brasil – II

  – Militância política                             – Primeiros anos da Segunda

  – Ingresso na Universidade Lenin          Guerra Mundial

  – Graduação na Academia Militar      – Movimentos nazistas canadenses

      de Frunze                                           – O agente Janowski

  – A primeira missão                              – Tentativa de captura de 

  – Missão Romênia                                     submarino 

  – Missões britânicas                              – A Comissão de Controle

  – Missões Berlim e Praga                     – Crepúsculo

 

 

Generalidades. Em garranchos anteriores, foi formulada a sugestão de temas para filmes nacionais e, nessa proposta, foi incluído o personagem Johnny, como possibilidade interessante para uma obra cinematográfica. Vejamos então quem é esse caboclo multifacetado e controverso.


Nesse sentido, convém repetir aspectos preliminares do texto anterior. Um obscuro personagem permeou a periferia da história, a bordo de espionagem, na Alemanha, Armênia, União Soviética, Inglaterra, China, Canadá, Estados Unidos e Brasil. Com um nome que lembra o de Bach ou Mozart — Johann Dietrich Amadeus de Graaf — em sua vida tão plena de diversidade, utilizou mais de 60 pseudônimos, mas notabilizou-se como Johnny. A curiosidade em torno de Graaf se impõe por seu papel na relevante vitória brasileira contra o comunismo em 1935 e, em paradoxo incrível, por quase ter morrido, em face de tortura supostamente praticada pela polícia de Getúlio Vargas.

O americano R. S. Rose e o canadense Gordon D. Scott — PhD e escritor, respectivamente — publicaram em 2010 o livro biográfico “Johnny”. A dupla valeu-se de farta bibliografia, o que confere ao relato um elevado grau de credibilidade.

 

Fontes que alicerçam a obra

Para a elaboração do livro os autores apoiaram-se nas seguintes fontes bibliográficas (alemãs, soviéticas, americanas, chinesas, suecas, romenas, húngaras, canadenses, britânicas, argentinas e brasileiras):

– 125 artigos, livros e manuscritos;

– 21 jornais e periódicos;

– 7 publicações de governo e oficiais;

– 78 entrevistas;

– 51 cartas e mensagens e-mails;

– 21 artigos na Internet; e

– 239 consultas a documentos de arquivos.

 


Inicialmente, a meta era elaborar uma resenha do livro, contudo, o texto descambou para uma condensação (posso fazê-la? Há base jurídica? O que importa é a nobreza da causa). Nada mal! Pode ser um estímulo para a leitura por aqueles que — com pouca disponibilidade de tempo — tenham interesse em visitar os processos de ação dos adeptos do socialismo real ou de seu sistema gêmeo, o nacional-socialismo, que ainda hoje ameaçam a liberdade e a verdade. 

A origem. Johnny era filho de Johann e Amanda, e veio ao mundo em 1894, na cidade de Nordenham, na desembocadura do rio Weser, no mar do Norte, na Alemanha. Durante a infância e a adolescência, não raro, Johnny era maltratado por sua mãe. No entardecer da infância, um dia, Amanda solicitou que ele saísse de casa para resolver um problema demorado. O filho ficou desconfiado e curioso — a desconfiança e a curiosidade se manifestaram precocemente — e ele permaneceu escondido em casa. Num determinado momento, espionou pela janela do quarto dos pais e viu a mãe nua, atracada com um desconhecido. A cena chocante, para alguém que mal iniciara o aprendizado das venturas e desventuras humanas, deve ter se alojado nas profundezas de sua mente. 

Marinheiro mercante. Aos 14 anos, Johnny deixou a casa para se tornar marinheiro mercante. Conhecer o mundo e enfrentar adversidades contribuíram para uma vida plena de aventuras e reviravoltas. O Atlântico, o Pacífico e o Índico — cruzados de forma recorrente nas quatro direções cardinais, na alvorada da juventude — possibilitaram-lhe uma visão global, ‘idiossincrática’ e estimulante, tanto dos processos humanos quanto dos contextos e circunstâncias em que se concretizam. Seu comportamento inquieto e desafiador ficou evidenciado quando, em duas ocasiões, saltou no mar, na obscuridade noturna, nadou até a praia e abandonou o ambiente autoritário, repressivo e injusto — incluindo trabalho árduo com parca alimentação e maus tratos físicos — que prevalecia nos navios mercantes àquela época.

Marinheiro naval. Na última fuga, em 1914, aos 20 anos de idade, nadou até a desembocadura do rio Maas e chegou à cidade portuária holandesa de Roterdã. Dirigiu-se ao Sindicato dos Navegantes local para conseguir trabalho em um novo navio. Lá deu de cara com o capitão Square, comandante do navio “Sondike”, de onde fugira. Foi preso e entregue para as autoridades fronteiriças da Alemanha.

Cinco dias depois, foi forçado a se alistar na Marinha Imperial alemã. Foi designado para servir na base de Wilhelmshaven, a maior unidade naval alemã do mar Norte, que ficava perto do local onde nascera e lhe trazia lembranças de sua infância. Porém, antes de se apresentar, passou em sua casa, onde, após 6 anos de ausência, reviu o pai e os irmãos; e ficou sabendo que sua mãe deixara o lar, abandonara os seis filhos restantes e partira em busca do destino compatível com sua opção e vocação preferenciais.

No tempo passado na Marinha, Johnny sofreu maus tratos a ponto de ser internado, em coma; e depois de várias cirurgias, recuperou-se dos ferimentos. Conheceu marinheiros com quem iniciou velada militância política, no USPD — Partido Social-Democrata Alemão Independente, que era uma dissidência do SPD — Partido Social-Democrata Alemão (agremiação apoiadora do Cáiser). Esses militantes formaram o chamado Grupo 42, cujos integrantes foram espalhados na força naval, mas mantiveram contato e, mais tarde, tentaram organizar um motim na Marinha. 

Após a formação básica, foi designado para o navio de guerra “SMS Westfalen”, da emergente “Hochseeflotte”, ou frota de Alto-Mar. Participou da única grande batalha naval Primeira Guerra Mundial, a Batalha de Jutland. Em que pesem os problemas anteriores, Johnny foi promovido a primeiro-sargento-chefe, encarregado das torres de canhão “Westfalen”. O navio liderou a linha alemã em determinado momento da batalha de Jutland e foi total ou parcialmente responsável por afundar cinco destroieres britânicos, e danificar outros cinco. Johnny recebeu a Cruz de Ferro de 1ª Classe por bravura durante o combate e ganhou uma ilustração da batalha assinada pelo Cáiser. Johnny recusou a medalha, retirando o casaco militar e atirando-o no convés. Pelo ato de insubordinação, pegou 28 dias de cadeia. 

O comando da base naval pediu a muitos marinheiros que treinassem voluntariamente para se tornar oficiais; Johnny recusou. Em uma formatura, um tenente-coronel retirou seu quepe que estava torto e o chamou de vagabundo. Johnny apanhou uma caixa de ferramentas e jogou-a na cabeça do oficial. Mais uma vez, foi preso.

Presidiário em Osowiec. Os marinheiros alemães decidiram intensificar os esforços e planejar um motim naval geral, por meio de lideranças que incluíam os integrantes do Grupo 42. Em 2017, os líderes dos insurgentes foram presos, submetidos a corte marcial e condenados ao fuzilamento. Graças a interferência de um de seus comandantes, Johnny salvou-se da execução, foi condenado a uma pena menor e, para cumprir a sentença, foi levado para um lugar especial no leste da Polônia, o Forte Osowiec. Essa prisão era um lugar horrível. Depois de 11 meses, restavam apenas 7 membros do contingente de 41 que chegaram juntos. Johnny que tinha 1,80 m de altura e antes pesava 86 quilos, agora definhava um pouco a cada dia, enquanto procurava migalhas para comer, tendo assim chegado a 47 quilos.

Em 3 de novembro de 1918, uma segunda revolta naval foi desencadeada na Alemanha. O Cáiser abdicou e fugiu para a Holanda. O comandante e os integrantes da administração de Osowiec abandonaram o local e os presos restantes conquistaram a liberdade. Pegando carona, Johnny deslocou-se para Hamburgo e depois para Bremen, para onde sua família tinha se mudado. Não foi reconhecido por seus irmãos; e seu pai levou um bom tempo, ouvindo-o, para identificá-lo — ele que sempre o tratara com carinho, apoiara e defendera.

Militância política. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, ocorreu a desmobilização militar, Johnny se tornou um homem livre, contatou antigos companheiros de militância política e ingressou na Spartacus Bund, um dos partidos que se opunha aos partidos tradicionais, como o Partido Social-Democrata e o novo Zentrum. Foi recebido e permaneceu algum tempo na residência do Klutska, um colega marinheiro a quem defendera anteriormente. Conseguiu emprego em uma mina de carvão, casou-se com Maria Klutska e intensificou a militância política na Spartacus Bund, que se transformou no KPD, o Partido Comunista da Alemanha.

Ao longo da década de 1920, Johnny vivenciou intensa atividade pessoal e política no seio do Partido Comunista alemão. Duas vezes, foi preso e condenado a 18 meses de prisão; teve três filhos com Maria e separou-se dela. Johnny ofereceu robusta resistência aos nazistas, inclusive oferecendo a arma com que um correligionário assassinou o nazista Horst Wessel. Joseph Goebels transformou um dos poemas encontrados no apartamento de Wessel em “Horst Wessel Lied”, que se tornou o hino oficial do Partido Nazista. 

Em 1927, Johnny completou 33 anos. Após a libertação da segunda prisão, seguiu para Berlim e passou algum tempo na residência de um militante comunista — Gustav Krüger, a esposa Pauline e três filhos, Helena, então com 9 anos, Gertrude (ou Gerti) e Ernst. No futuro, as duas moças teriam relevância na vida de Johnny.

Ingresso na Universidade Lenin. Para evitar nova prisão por sua militância, Johnny foi para a Suíça, onde foi convidado por Langner — um finlandês especialista em guerra revolucionária e membro do Quarto Departamento (Inteligência) do Exército Vermelho da União Soviética — para estudar na Universidade Lenin Internacional. A ambição de angariar um curso superior e subir na esfera de responsabilidades o fizera aceitar o convite. Assim, em 1930, o filho e marinheiro fugitivo, era estudante em Moscou e tentava, com pertinácia, corresponder a esse chamado, antes impensável. 

Eis que surgiu a grande decepção. Desde a Alemanha vivenciou assertivas como: “Em primeiro lugar, os trabalhadores!” E também: “Nenhuma classe rica, todos são iguais!”. Ora, não era isso que observava e vivenciava. Assim, a percepção de Johnny sobre a realidade soviética é decepcionante: 

“As liberdades básicas de expressão e escolha, nas quais Johnny acreditava profundamente, não existiam. O Estado, com sua polícia política, assegurava, através de uma rede de informantes onipresentes, que as prisões e os campos de trabalho siberianos ficassem sempre cheios de dissidentes. Os julgamentos eram simulações. Tanto inocentes quanto culpados eram pré-julgados sem direito a recurso. Um deslize da língua, mesmo entre amigos, podia resultar no desaparecimento de alguém. O dogma pregado não era praticado. Era um processo de perseguição à alma, e Johnny não conseguia encontrar justificativa para isso. A corrupção e as mentiras o incomodavam. Noite após noite rolava na cama, até finalmente elaborar um plano. Estava na União Soviética havia apenas três meses.”[Conforme livro Johnny, pág. 160/161]

Desde as primeiras semanas, Johnny tornou-se um “rato de biblioteca”. Desistir, fugir era o que ecoava em sua mente! A ideia surgiu quando percebeu que forças militares viajavam para além das fronteiras. O Exército Vermelho estava sempre em movimento, às vezes em outras terras onde seria possível desertar. 

Graduação na Academia Militar de Frunze. Os soviéticos perceberam que suas preferências eram assuntos militares e estratégicos. Daí, et pour cause, mais uma dentre tantas reviravoltas de sua vida ocorreu. Entre surpresa e incredulidade, e extemporaneamente, Johnny foi informado de que estava sendo transferido para a Academia Militar de Frunze. Ele encarou essa mudança como uma possibilidade a mais para fugir da União Soviética.

E foi assim que ainda em 1930, realizou-se o evento de graduação, tendo como convidado de honra o próprio Joseph Stalin. Com um aperto de mão, o ditador entregou-lhe o diploma, que lhe conferia o posto de major do Exército Vermelho.

Após a formatura, Johnny recebeu ordem para se apresentar à sede do Estado-Maior, em Moscou. Foi recebido pelo general Ian Berzin. Eles já tinham se visto antes. Berzin fora o agente soviético que dera instruções e dinheiro para comprar armas quando Johnny organizava a revolução na Alemanha. Berzin informou que doravante Johnny trabalharia para o M4 (Inteligência do Exército Soviético), sob seu comando; e faria um curso especial de inteligência avançada em estratégia e táticas europeias, e ingressaria na Divisão Internacional voltada para o Oriente Médio.

 

Dúvidas há! 

A despeito da mencionada provável credibilidade do livro Johnny, é preciso uma avaliação mais rigorosa de determinados aspectos. A formação básica do soldado brasileiro somada ao curso de cabo tem a duração aproximada de 5 meses. De acordo com o livro, o curso de formação de oficiais de Johnny na academia militar soviética durou 5 meses. É isso mesmo? Ou é uma inconsistência do livro?

 


A primeira missão. Terminado o curso, Johnny foi convocado para uma reunião com Langner (do M4 do Exército Vermelho), Fritz Heckerr (do Partido Comunista Alemão) e Dmitri Manuilski (do Comintern). O Comintern precisava de um especialista em mineração de carvão e Johnny fora mineiro. A crise econômica mundial e o desemprego maciço na Alemanha levaram ao deslocamento de 4 mil a 5 mil alemães simpáticos à União Soviética para trabalhar nas minas de carvão. Johnny recebeu a missão de chefiar o campo de mineração de Donbass, na Ucrânia.

Ao término da primeira missão, Johnny retornou para Moscou e foi transferido do Partido Comunista da Alemanha (KPD) para o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), o que significou que afora membro do M4 (Inteligência) ele colocava um pé no Comintern (Comitê Executivo da Internacional Comunista).

Missão Romênia. Sua primeira e esperada missão no exterior foi na Romênia. A meta era organizar células comunistas no Exército Romeno e obtenção de inteligência relativa à infraestrutura romena e, em especial, aos oleodutos da principal refinaria daquele País. Saiu de trem de Moscou com um passaporte suíço falso, trocaria depois por um passaporte alemão falso em Berlim, e depois apanharia 20 mil xelins austríacos em Viena. Johnny esteve em Bucareste entre abril e agosto de 1931. 

Treinou um especialista na arte de formar células vermelhas — em três meses, eles operacionalizaram cinco células comunistas em quartéis do Exército Romeno. Ensinou a dois indivíduos a arte de espionagem, obtendo deles, em contrapartida, plantas do campo de petróleo de Ploesti, e cópias recentes de diretrizes estabelecidas pelo Exército Romeno (os soviéticos tomaram conhecimento dessas diretrizes antes mesmo da oficialidade romena). Os especialistas treinados foram eficazes na obtenção de informações, mas falharam na segurança própria, pois, foram descobertos e presos — um cometeu suicídio diante da ameaça de tortura; e o outro foi espancado até a morte.

Missões britânicas. Na Inglaterra, a redução dos gastos públicos, as consequências da quebra da Bolsa de Valores em 1929 (com medidas draconianas para apertar o cinto), a elevação de impostos, a redução de benefícios para desempregados e de salários de funcionários públicos e as grandes diferenças entre os vencimentos de oficiais de patentes elevadas e os praças, ofereciam uma oportunidade para os soviéticos. Johnny foi designado para a missão. 

O objetivo era ajudar George Aitken, um importante membro do Partido Comunista da Grã-Bretanha (CPGB), nas atividades de propaganda e agitação, incluindo a possibilidade de levar os marinheiros a motim. 

Johnny seguia com a atribuição adicional de verificar a suspeita de que Harry Pollitt, secretário-geral do CPGB, estava enviando à União Soviética o que Moscou suspeitava serem falsas histórias sobre os esforços antimilitares do partido no Reino Unido. 

Johnny não conseguia parar de pensar em fugir da União Soviética, porém, assim como na missão romena, o M4 assegurava-se de que todos os passes, identificações e documentos fossem devolvidos antes de um agente deixar a União Soviética. Era uma maneira eficiente de impedir que as pessoas abandonassem o barco. Ao passar por Berlim, Johnny ficou na casa dos Krüger. Os pais pediram-lhe que levasse a filha mais velha, Helena, com ele para Londres.

 

Dúvidas há! 

De acordo com o livro, em 1927, Helena tinha 9 anos; e, por óbvio, nasceu em 1918. Então ela foi levada para Londres, em 1931, com 13 anos. Ora, como uma adolescente viveria no estrangeiro, sozinha (na companhia de Johnny, apenas nos primeiros meses), a partir dessa idade? O improvável, de fato, ocorreu? Ou é uma inconsistência do livro?

 


Johnny contribuiu para a elaboração de informativos — Soldier’s Voice, The Red Army, The Red Soldier e o mais popular, The Red Gun — destinados prioritariamente aos integrantes das forças armadas britânicas, e nos quais havia intensa pregação do comunismo, de antimilitarismo, incentivo para a quebra da hierarquia e disciplina, e motins. Tentava fiscalizar a aplicação dos recursos periódicos enviados por Moscou para o CPGB. Nesse sentido, constatou que a liderança do partido estava guardando uma boa parte desse dinheiro, o que significava corrupção preventiva (para usufruto pessoal e possíveis fugas futuras). Adicionalmente, tentava orientar o recrutamento de novos filiados para o CPGB, que na véspera da Segunda Guerra Mundial, chegaria a mais de 17.000 membros.

Ele recebeu ordem para retornar a Moscou. Deixou Helena em Londres, em face de plano futuro e seguiu para a Alemanha. Sem qualquer identificação soviética, não podia provar que era agente do M4 ou do PCUS, mas ainda assim decidiu ir ao consulado americano em Colônia. Achava que tinha chegado a hora de abandonar a União Soviética. Apresentou-se ao vice-cônsul. Este considerou improvável sua história e recusou-se a encaminhar sua proposta de acolhimento em face de deserção. 

Em Moscou, teve oportunidade de assistir à conferência do M4 e Comintern com o secretário-geral e com um alto integrante do Partido Comunista Britânico (ambos convocados a Moscou). Constatou as falsidades que os britânicos declararam e contribuiu para as reprimendas que sofreram.

Johnny recebeu a missão de voltar a Londres. O objetivo era prosseguir com o projeto anterior — de propaganda, conscientização e incentivo à adesão ao sistema comunista —, com as correções resultantes do aprendizado da primeira etapa. Concluído o trabalho, no retorno a Moscou, Johnny levou Helena de volta a Berlim, deixando-a com os pais. Passando por Copenhague, Estocolmo e Helsinque — e fazendo as devidas trocas de passaportes falsos — apresentou-se ao M4, relatando o cumprimento da missão e recebendo o reconhecimento pelo feito.

Missão Berlim e Praga. Entre 1930 e 1933, a Alemanha foi palco de intensa luta política envolvendo, de um lado o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Comunista (KPD) e, de outro, Hitler e seus nazistas. Johnny recebeu a incumbência de mobilizar a Organização Combatente Frente Vermelha (RFB). Em Berlim, Johnny iniciou pertinaz e intenso trabalho mobilizador, mas com o passar do tempo, e contrariando frontalmente seus interlocutores alemães, asseverou que Hitler ascenderia ao poder e exortou os camaradas para que deixassem o país imediatamente. Ele estava certo! Em 30 de janeiro de 1933, Hitler foi investido no cargo de chanceler da Alemanha. 

Subsequentemente, a polícia alemã espalhou um folheto que oferecia uma recompensa de 100 mil marcos por sua captura. Como faltou dinheiro para sua saída da Alemanha, ele e dois outros membros do KPD valeram-se dos fundos do partido, que era bancado por Moscou. Essa espécie de expropriação foi fatal para os dois membros do KPD, quando chegaram em Moscou — eles foram fuzilados. Talvez, Johnny tenha sido salvo da execução por antigos conhecidos — Manuilki (do Comintern) e Valisiev (do Departamento de Organização e Registro do PCUS).

Em junho de 1933, Johnny decidiu ir à embaixada americana em Berlim. Apresentou-se ao embaixador William E. Dodd contou sua história e se ofereceu como refugiado político. Obteve a resposta de que a lei americana proibia aceitar agentes de outros países. Johnny replicou:

— “Certamente o senhor pode ver que lutei contra a Alemanha e contra cada ditadura. Sempre lutei pela justiça, pela justiça democrática. Agora, venho até o senhor oferecer meus serviços e o senhor diz não!” [Johnny, pág. 226]

— “Sinto muito. É a nossa Lei. Bom dia e boa sorte.” Respondeu o embaixador. [Johnny, pág. 226]

Em estado de desânimo, mas com impulso sobrenatural, caminhou por becos secundários e ruas laterais mal iluminadas e chegou à embaixada do Reino Unido. Viu-se diante de Frank Foley, disfarçado de primeiro-secretário e oficial de controle de passaportes. Em realidade, estava diante do segundo oficial do Serviço Secreto da Inteligência britânico (MI6), na Alemanha. Em um segundo encontro com Foley, a surpresa: mais de dez anos antes, quando Johnny militou contra o sistema alemão, incentivando motim naval, os insurgentes eram financiados pelo MI6 britânico. Foley declarou:

— “Parabéns, Johnny, você trabalhou para nós diariamente, recebendo dinheiro e informações de nosso escritório [britânico], que você passou para os navios de combate [alemães], durante o motim.” [Johnny, pág. 228]

Subsequentemente, Foley propôs que ele continuasse associado à União Soviética e se tornasse agente duplo. Johnny declarou:

— “Tudo que quero é asilo político. Aceitaria trabalhar para vocês, mas não como agente duplo. Quero deixar a União Soviética e o comunismo de uma vez por todas”[Johnny, pág. 229]

 

Dúvidas há! 

Será o que o M4 soviético e o MI6 britânico financiaram a propaganda, agitação e motins da Alemanha, conforme ficou explícito no livro? Em ocasiões distantes ou na mesma ocasião? Ou é uma inconsistência do livro?

 

Depois da aceitação da condição de agente duplo e de rigorosos acertos sobre os procedimentos de ação, Johnny seguiu para Praga, onde faria contatos com soviéticos e, também, com britânicos! Ficou sabendo que a próxima missão soviética seria na Manchúria e na China. Helena o encontrou na capital tcheca e seguiu com ele para Moscou. 

Missão Manchúria e China. O capitão Werner, agente soviético na Manchúria, formou uma rede internacional de inteligência e espionagem, entretanto essa rede era autossuficiente. O M4 queria saber como esse aparelho conseguia operar sem ajuda financeira. Johnny constatou que Werner obtinha recursos operando uma revendedora de automóveis e caminhões Ford, cujo cliente mais relevante era o exército do Kuomitang de Chiang Kai-Shek. A solução era singular e surpreendente: comunistas exploravam o capitalismo para atender as necessidades do inimigo capitalista, visando à obtenção de recursos para financiar o comunismo.

Johnny retornou a Moscow e depois seguiu para a China para treinar integrantes do Exército Chinês Ocidental comandado pelo general Zhu De, objetivando atacar Chiang Kai-Shek. O treinamento e a orientação das tropas de Zhu De, especialmente, no atinente a técnicas de guerrilha foi realizado com êxito. Além dos contatos com Zhu De, Johnny interagiu também com Chiang Kai-Shek, que mais tarde se tornou o segundo líder mais poderoso da China. 

Interagindo com os britânicos, além de transmitir informações sobre as atividades comunistas, deu contribuição fundamental — incluindo participação pessoal nas operações — para desarticular uma rede de espionagem que passava para os japoneses, segredos industriais britânicos.

Missão Brasil – I. O objetivo da missão era contribuir para a revolução comunista. Alfred Langner, o superior de Johnny no M4 soviético apresentou a seguinte caracterização dos trabalhos:

— “A missão é enviar um grupo altamente especializado, sendo você o único membro do Estado-Maior, enviado para cultivar, recrutar e desenvolver células dentro e fora das forças armadas. As forças armadas [brasileiras] estão se contorcendo para se rebelar. Com o impulso apropriado, uma rebelião maciça, e em seguida uma revolta, pode ser deflagrada, resultando na derrubada do governo brasileiro.” [Johnny, pág. 258]

— “Sua tarefa envolverá principalmente o treinamento de grupos de guerrilha e assistência em estratégias e táticas militares. Um especialista do Comintern recém-convertido comandará a organização dessa derrubada ... [seu nome é] Luís Carlos Prestes. Sua missão será ajudá-lo.” [Johnny, pág. 259]

Adicionalmente, Langner afirmou que o Comintern localizara Prestes em Buenos Aires, convertera-o ao comunismo através dos esforços de Abraham Guralski (pseudônimo de Boris Heifetz) e Arthur Ewert e o enviara à União Soviética. Os integrantes da primeira missão no Brasil são nomeados a seguir:

“Um grupo seleto formado por Prestes, Ewert, Johnny, o chefe do Partido Comunista argentino, Rodolfo José Ghioldi, outros dois argentinos, um italiano, um americano, cinco membros do partido brasileiro — entre eles o chefe do comitê revolucionário do Rio de Janeiro — e Pavel Vladimirovich Stuchevski viajaria para o Rio de Janeiro. Stuchevski era cidadão soviético e membro da sinistra NKVD. As esposas verdadeiras de Ewert, Ghioldi e Stuchevski os acompanhariam. Johnny levaria Helena Krüger disfarçada de esposa. Johnny descobrira que Helena — que era descrita como uma mulher extremamente atraente — se envolvera com vários homens. Isso esfriara o que restava do relacionamento entre eles. Entretanto, recomendaram que ele a levasse para permitir o disfarce de homem viajando com a mulher. Prestes viajava com uma guarda-costas que se tornara sua amante, a alemã Olga Benário. Ela se afastara de B. P. Nikitin, seu marido durante um ano, para fazer isso.” [Johnny, pág. 259]

 

Dúvidas não há! 

No âmbito do comunismo e do nazismo — socialismo real e nacional socialismo; ambos, portanto, socialismo — não raro, prevalecem a mentira, a falsidade e a podridão! Em contrapartida, são sacrificadas a liberdade, a verdade, a coragem e a ética! E tem gente que gosta!

 

 

 

NKVD 

Narodniy Komissariat Vnutrennikh Diel, isto é, Comissariado do Povo para Assuntos Internos, com funções policiais e de segurança, bem como de serviço secreto. Posteriormente, foi transformado em Ministério do Interior.

 

Na ida para o Brasil, Johnny encontrou-se, em Copenhage, com Frank Foley, do MI6 britânico. Foi acertado que Johnny fizesse contato com Alfred Hutt, superintendente geral da Light, no Rio de Janeiro. Hutt era o segundo agente do MI6 na capital brasileira (o primeiro era o próprio embaixador britânico, Sir Hugh Gurney).

Após a chegada ao Brasil dos integrantes do grupo definido em Moscou, teve andamento uma série de encontros no Rio de Janeiro, envolvendo líderes comunistas brasileiros, para organizar a tentativa de golpe com o objetivo de derrubar o governo de Getúlio Vargas e substituí-lo por Luís Carlos Prestes. O que era tramado pelos insurretos, Johnny transmitia para Hutt, que as repassava para o embaixador inglês Gurney. As informações eram codificadas e telegrafadas para o MI6 em Londres. Essa comunidade as transmitia de volta para o ministro do Exterior brasileiro, Oswaldo Aranha, que informava Vargas e Filinto Müller, chefe da Polícia Civil e diretor da DESPS (Delegacia Especial de Segurança Política e Social). Doravante, a DESPS será referida neste texto, simplesmente, como Delegacia Especial.

Paralelamente, no Rio de Janeiro, Johnny treinava grupos de trinta brasileiros de cada vez em técnicas de guerrilha, métodos de luta, barricada nas ruas, armas, fabricação de bombas, explosivos e outras habilidades necessárias à revolução civil. Johnny viajou para Recife para repetir o treinamento de insurretos na capital pernambucana; e como agente duplo, contatou o lado contrário e expôs ao Secretário de Segurança Pública o que estava sendo planejado no Rio para o Nordeste.

E foi assim que em meio aos recorrentes problemas disciplinares, resultantes da anterior redução à metade do efetivo do 21º Batalhão de Infantaria por rebelar-se contra o interventor de Pernambuco e transferência de Recife para Natal, Vargas se viu compelido a enviar um tenente-coronel para assumir o comando e restaurar a ordem, já que graves indisciplinas continuavam sendo praticadas. Em face da ameaça das medidas restauradoras prejudicarem o sucesso do PCB, a Intentona foi antecipada em Natal e teve início em 23 de novembro de 1935. Os rebeldes de Recife iniciaram a revolta em 24 de novembro.

Quando os esquerdistas de Recife pegaram em armas em apoio aos rebeldes de Natal, os comunistas do Rio decidiram iniciar a parte carioca da Intentona em 27 de novembro de 1935, às 2 horas. Johnny avisou Hutt sobre o andamento das atividades. O embaixador britânico informou ao presidente Vargas sobre o possível perigo. Vargas telefonou pessoalmente para Hutt para indagar se os comunistas poderiam ter sucesso. Depois de ouvir Johnny, Hutt informou ao presidente que os comunistas não tinham a menor chance. Segundo essa avaliação, as cidades do Sul não estavam prontas para a revolta e em São Paulo, nada sequer principiou.

Os rebeldes de Recife foram facilmente neutralizados. Os rebeldes de Natal “assumiram o controle da capital do estado. Três pequenos aviões de forças legalistas de Recife voaram sobre Natal jogando folhetos. A cidade foi ameaçada de bombardeio caso não se rendesse. Funcionou. Os comunistas desistiram ou foram para lugares desconhecidos.” [Johnny, pág. 276]

Os distúrbios mais relatados divulgados “ocorreram no Rio de Janeiro. Em seu forte na Praia Vermelha, o 3º Regimento de Infantaria (3º RI) Missãfoi responsável pela maior parte da luta, bloqueada pela Polícia Militar de Botafogo e em seguida por destacamentos do Exército que receberam ordem para isolá-lo. Dois aviões militares sobrevoaram o local metralhando e jogando bombas. Por fim, os rebeldes do 3º RI — mais de mil — renderam-se por volta das 14h, saindo de seus confins elevados de braços dados — os oficiais à frente —, todos sorrindo e cantando o hino nacional. Outros redutos de resistência logo foram vencidos na cidade. A Revolução Social ou Intentona Comunista, estava encerrada em um fiasco de quatro dias.” [Johnny, pág. 276]

As autoridades brasileiras rapidamente “prenderam algumas centenas de soldados, além de vários políticos conspiradores. Vargas deu sinal verde para um reinado de terror, que foi a maior operação desse tipo na história brasileira. Durou até junho de 1937 e teve início com uma denúncia, quando esquerdistas clamaram que vários oficiais detidos haviam sido levados para um bosque perto do Rio e mortos a tiros. O massacre foi maior, porém, em Pernambuco. Ali, o major Higino Belarmino executou sumariamente todos os soldados capturados.” [Johnny, pág. 277]

Ao fim da inquisição que “assustou os vermelhos, o número de pessoas detidas para interrogatório — muitas delas torturadas — ficou entre 7 mil e 35 mil, segundo estimativas. A grande diferença entre esses números está associada à fonte consultada e à posição política do leitor. O significado, porém, foi claro o suficiente. Getúlio Vargas não era o tipo que perdoava e esquecia aqueles que estavam à esquerda no espectro político. Durante gerações, a elite brasileira — tanto dentro quando fora das forças armadas — diria aos comunistas: ‘Nós os avisamos!’ ” [Johnny, pág. 277]

Prestes e Olga foram capturados no Meier. Prestes foi condenado a 16 anos e seis meses de prisão, sentença à qual mais tarde foram acrescentados 30 anos por participação na aprovação do assassinato de Elza Fernandes. Foi anistiado em 1945. Olga foi deportada para a Alemanha, onde morreu executada em uma câmara de gás. O líder comunista Antonio Bonfim e sua mulher, Elza Fernandes foram presos. Mais tarde, Elza foi libertada e depois executada pelos próprios comunistas.

Arthur Ewert e Sabo foram presos pela Polícia Civil em Ipanema. Foram condenados a 30 anos de prisão e, posteriormente, deportados para a Alemanha. Rodolfo Ghioldi e Carmen tentaram fugir para a Argentina, mas foram capturados em São Paulo. O americano Victor Allen Barron foi preso. A Polícia o teria matado e divulgado que ele se suicidou.

O agente do NKVD soviético Pavel Stuchevski e Sofia fugiram para Buenos Aires. O italiano Amleto Locatelli também fugiu para a Argentina.

O próprio Johnny e Helena foram presos e interrogados. Passaram uma noite na cadeia e foram libertados com um pedido de desculpas de Filinto Müller. Há a suposição de que Johnny tenha entregado para a Delegacia Especial todos os participantes importantes da Intentona, tanto estrangeiros quanto brasileiros. Em 20 de janeiro de 1936, Johnny e Helena seguiram para Buenos Aires porque receberam ordens de Moscou para treinar rebeldes locais em manuseio e emprego de armamentos, munições e técnicas de guerrilha.

 

Dúvidas há! 

O relato de R. S. Rose e Gordon D. Scott sobre a Intentona Comunista apresenta algumas discrepâncias em relação a fontes brasileiras, oficiais ou não, porém, em suas linhas mais gerais, há compatibilidade nas informações. Um aspecto relevante que deixou a desejar é a ausência de informação sobre as vítimas do Exército, que foram assassinadas por seus covardes companheiros.

 


Missão Argentina. Em Buenos Aires, Johnny repetiu a atividade de treinamento de argentinos para a revolução, como era habitual na maioria de suas missões do M4 soviético no exterior. Ademais, da capital portenha, Johnny fez tratativas orientadas por Moscou para libertar Prestes da prisão. A abordagem se apoiava “na crença de que a maioria dos brasileiros podia ser comprada”. Seus superiores soviéticos estavam dispostos a gastar US$ 1 milhão para obter a liberdade de Prestes. Fracassou porque os brasileiros responsáveis queriam todo o dinheiro adiantado e os soviéticos queriam pagar metade antes e metade depois.

Em relação ao MI6 britânico, ele conseguiu organizar uma rede de 30 agentes na Argentina e no Chile. Seu superior de Londres decidiu enviar um agente para auxiliá-lo — um caboclo de linhagem real, jovem de boa aparência, com um belo inglês de Oxford, que Johnny chamava de “o Aristocrata”. Ele tentou recusar pois seu pessoal era efetivo e suficiente, mas a decisão foi mantida. Com a chegada do novato e o passar do tempo, houve a constatação de que havia um traidor no grupo. Johnny testou todos os seus agentes, dois a dois, dando-lhes missões específicas. Deixou o Aristocrata por último e as suspeitas foram confirmadas: ele era o infiltrado. Johnny o visitou no sítio de forma inesperada, convidou-o para caçar e o matou com um tiro na cabeça. 

Em 22 de novembro de 1936, Johnny foi convocado de volta a Moscou. Helena recusou-se a acompanhá-lo; e houve discussão interminável que foi encerrada com a morte de Helena. Durante as investigações, Johnny declarou que fora suicídio, porém, ao final da vida, esclareceu que assassinara a acompanhante por causa do risco que ela passou a representar para sua vida.

O grande terror. Após o retorno a Moscou, Johnny vivenciou vários interrogatórios e produziu relatórios que eram confrontados com outros oriundos de participantes das missões no Brasil e na Argentina. Foi inquirido longamente por Gevork Alikhov e Stella Blagoeva, do Comintern, durante horas a fio, por mais de quinze dias. Stuchevski, do NKVD, que esteve no Brasil, fez um duro relatório que incriminava Johnny. O próprio Alikhov formulou relatório em que reforçava as acusações de Stuchevski. Adicionalmente, cinco agentes do NKVD o interrogam durante 7 horas sobre os acontecimentos do Brasil; e quatro dias depois, foi chamado ao escritório do NKVD para outro longo interrogatório.

Subsequentemente, foi levado à presença do Comitê Central do PCUS, no Kremlim, com o objetivo de determinar as responsabilidades pela tentativa fracassada de derrubar Getúlio Vargas. Os representantes pesos-pesados do Comitê Central eram o ministro da Defesa, marechal Voroshilov; os comissários da Indústria Pesada Mikoyan e Kaganovich; o secretário de Relações Exteriores, Molotov; e o novo chefe da NKVD, Yezhov. Johnny entende que esse foi o momento decisivo e salvador de sua avaliação.

Os períodos que passava no Novo Moscovskaya “entre as sessões de interrogatório foram os mais enervantes da vida de Johnny. Comia compulsivamente e chegou a pesar 105 quilos. Estava em estado de pânico disfarçado, e por bons motivos. Desde o assassinato do líder do partido em Leningrado, Sergei Kirov, rival de Stalin, no início de dezembro de 1934, até o afastamento de Yezhov, chefe da NKVD, em dezembro de 1938, desenrolou-se o período que ficou conhecido como o Grande Terror. Os anos de 1937 e 1938 foram os mais terríveis, uma vez que todos os segmentos da sociedade soviética se sentiam vítimas da paranoia dos expurgos em massa e eliminações.” [Johnny, pág. 305]

Entre os executados contam: “Pavel Stuchevski e Sofia, parceiros de Johnny no Brasil, e o substituto Boris Melnikov; Gevork Alikhanov e Moisei Chernomordik, inquisidores de Johnny; e, finalmente, Ian Berzin e Pavel Vasiliev, superiores e protetores de Johnny.” [Johnny, pág. 305]

Missão Brasil – II. A União Soviética tinha grande necessidade de inteligência militar em países como o Brasil, onde o apoio dos nazistas era forte. Então, Johnny foi instado pelo M4 soviético a montar negócio de importação e exportação em Tóquio e no Rio de Janeiro para suporte das atividades fundamentais de busca de informações. 

Johnny se deslocou de Moscou para Copenhague, onde se encontrou com Gertrude (Gerti) Krüger, a quem propusera núpcias e com quem se casaria. Essa irmã da falecida Helena Krüger estava interessada nele desde a adolescência. 

Ainda na capital dinamarquesa, Johnny encontrou-se com Foley, do MI6 britânico, e acertou a potencialização da rede de espionagem daquele serviço no Brasil para vigiar os 6.400 quilômetros da costa brasileira. As mensagens da União Soviética e para a União Soviética seriam repassadas a Londres, via Alfred Hutt, o executivo da Light. As ordens britânicas para Johnny viriam do chefe do MI6 em Montevidéu.

Ao chegar ao Brasil, Johnny fez contato com Filinto Müller, Chefe de Polícia do governo federal, explicou-lhe a preocupação de Londres com a infiltração nazista no Brasil e propôs que compatibilizassem os objetivos do Rio com os de Londres, tais eram os benefícios mútuos para os dois países. Filinto concordou com entusiasmo.

No aspecto familiar, ressalta a mudança da Alemanha para o Rio de Janeiro dos pais e irmão da esposa Gerti (Gustav, Emilie e Ernst). No plano social, a interação de Johnny abrangeu militares de alta patente e até o interventor do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto. No plano político, houve um encontro com o presidente Vargas, que presentou Johnny com uma cigarreira com a seguinte gravação: “Obrigado por impedir que a Revolução Comunista tivesse êxito. (Ass.) Getúlio Vargas”.

Em Moscou, um telegrafista do M4, de origem tcheca (irresponsável e beberrão) foi designado para trabalhar com Johnny. Porém, ao chegar no Brasil, não se apresentou a Johnny; e inexplicavelmente fez contato com brasileiros pró-nazistas que o encaminharam para a embaixada alemã. Dessas tratativas, foi estabelecido que o alemão Heinz Harold Schmutter contrataria o assassinato de Johnny, o que foi feito através de um motorista de caminhão e seu auxiliar. Johnny estava dirigindo de volta para casa, seu carro foi atropelado e destruído, mas o agente sobreviveu com várias escoriações. Ele descobriu o mandante Schmutter, levou-o para a Vista Chinesa, no alto da Boa Vista, e lançou-o para a morte em um despenhadeiro.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, as operações marinhas no litoral brasileiro assumiram relevância. Com as cruciais informações transmitidas por Johnny, a Marinha britânica enviou 3 cruzadores leves para atacar o couraçado alemão Graf Spee, que já tinha afundado 9 cargueiros aliados nos oceanos Atlântico e Índico. Na batalha, o Graf Spee foi danificado, seguiu para Montevidéu e não foi recuperado totalmente. Seu comandante, Hans Langsdorff, levou-o para o mar, ocasionou sua explosão com cargas sincronizadas, seguiu para Buenos Aires e, enrolado na bandeira do Graf Spee, cometeu suicídio.

Em 4 de dezembro de 1939 (um dia depois da batalha envolvendo o couraçado Graf Spee), houve a prisão de Johnny na Delegacia Especial da Praça Mauá. O médico Werner Kiesewetter, representante do MI6 britânico em Montevidéu fora preso no Rio de Janeiro e teria informado que Johnny era o chefe da espionagem britânica no Brasil. Foi preso também Francisco Julien, agente do Quadro Móvel de Filinto Müller, e contato de Johnny com essa autoridade. Incompreensivelmente, foi informado a Johnny que Filinto fora forçado a deixar o país para férias de seis semanas e não tomara conhecimento das prisões. 

 

Filinto Müller 

No início da década de 1940, Oscar (meu pai), modesto lavrador, trabalhou na derrubada de árvores em São Paulo e em mineração em Santa Catarina. Seus companheiros exerciam condenação, repressão e até agressões contra alemães e japoneses em seus locais de trabalho. Oscar et al posicionavam-se inequivocamente contra o nazismo. 

Nos primórdios da década de 1960, Oscar adquiriu um pequeno comércio decadente em Rochedo (povoado com cerca de 2.000 habitantes), no então estado de Mato Grosso; e, com muito esforço, fez com que prosperasse. O Grupo dos 11 local fazia proselitismo comunista no autofalante público do povoado e divulgava que, com a vitória da revolução, os bens de Oscar seriam distribuídos na praça pública e o proprietário seria lanhado com vara para aprender. Oscar sempre se posicionou radicalmente contra o comunismo.

Oscar tornou-se presidente do Partido Social Democrático (PSD) de Rochedo e exibia com orgulho a foto dele com Filinto Müller e Juscelino Kubstcheck, por ocasião da convenção do PSD em Cuiabá. E exibia também os cartões de cumprimentos que periodicamente recebera do senador Filinto Müller.

Enfatize-se que os eventos da prisão de Johnny por supostos elementos pró-nazistas da Delegacia Especial de Filinto Müller está mal contada. Pesquisas rigorosas poderão indicar se há falsidade ou imprecisão no relato. É certo que Filinto era radicalmente contra os comunistas. E em relação aos nazistas? 

Pesquisar é imperioso. Filinto foi oficial do Exército formado na AMAN e bacharel de Direito pela UFF. Participou como tenente da Revolta Paulista de 1924 e da Coluna Prestes em 1925. Foi chefe de Polícia do Distrito Federal (RJ) de 1933 a 1942, no governo Vargas. Como titular da Polícia daquele governo, atuou indistintamente contra a Ação Integralista Brasileira (AIB) e contra a Aliança Nacional Libertadora (ALN). Filinto é acusado da deportação de Olga Benário, entretanto, essa deportação foi decidida e autorizada pelo Supremo Tribunal Federal.

Filinto Müller foi senador por Mato Grosso em quatro mandatos. Foi líder do governo no Senado Federal e presidente daquela Casa no governo militar. Morreu em um acidente aéreo no dia 11 de julho de 1973, data da celebração de seu aniversário de 73 anos, num dramático acidente aéreo, nas proximidades do aeroporto Orly, em Paris, que ocasionou a morte de 123 passageiros. 

 


Johnny foi torturado até quase a morte, mas não revelou o que não desejava revelar. Chegou a um ponto em que pediu a um carcereiro simpático, uma lâmina de barbear. Perguntado a razão, respondeu que se a tortura chegasse a um limite insuportável, cometeria suicídio. Quando Filinto supostamente retornou — e também por interferência da embaixada britânica que fora informada de sua prisão — Johnny foi libertado. Filinto propiciou-lhe assistência médica e declarou que só o liberaria quando estivesse plenamente recuperado das consequências dos bárbaros espancamentos que sofrera. Simultaneamente, sua esposa Gerti sofreu uma das trágicas três perdas de crianças, durante período de gravidez.

Johnny foi deportado do Brasil e tão logo o casal adquiriu condições de saúde para viajar, seguiram destino para Londres. Moscou registrou que seu agente foi assassinado no Brasil.

 

Dúvidas há! 

A razão do registro do assassinato de Johnny seria o simples vexame da descoberta pelo M4 soviético de um caboclo tão relevante ser agente duplo? Ou a razão seria a ameaça de fuzilamento de um ou mais superiores, na tradição soviética de terror?

 


Primeiros anos da Segunda Guerra Mundial. Em 1940, ao chegar em Londres, Johnny se apresentou ao MI6 e mudou o nome para John Henry De Graff — como pessoa orgulhosa, manteve o nome de família. A primeira missão foi passar 30 dias em um campo de prisioneiros alemães suspeitos, com o objetivo de identificar espiões nazistas. Para isso, foi ajustada sua prisão pela Scotland Yard, com a acusação de pró-nazismo. Nas interações no campo descobriu dois agentes da Gestapo, curiosamente dois indivíduos que conhecera dez anos antes na missão Romênia.

A segunda missão era na Colômbia. Para isso, ele seguiu para o Canadá e depois para os Estados Unidos, mas antes de seguir para a América do Sul, a viagem foi cancelada — ele não soube os motivos e, também, ficou sem saber o que faria na Colômbia. Recebeu ordem para se apresentar à Polícia Montada Real Canadense (RCMP) — doravante referida neste texto como Polícia Canadense —, também responsável pelo serviço secreto e espionagem; e parceira do MI6 britânico. 

Antes mesmo de formalizar seu trabalho junto aos canadenses, contribuiu para a identificação do “Kaiser”, espião nazista que dirigia um grupo de agentes entre Montreal e Halifax. O porto de Halifax era crucial para o esforço de guerra e ponto de partida para navios de suprimento que seguiam para a Grã-Bretanha. Submarinos alemães circulavam na circunvizinhança e afundava navios a caminho do Reino Unido.

Movimentos nazistas canadenses. O trabalho atribuído a Johnny pela Polícia Canadense foi levantar e avaliar os grupos nazistas de Montreal e obter informações sobre as ações de seus integrantes. Como eram pouco organizados, Johnny infiltrou-se nos dois mais relevantes e atuantes, atribuindo-se a condição de capitão Burger, a mais elevada autoridade do serviço secreto nazista no Canadá. 

Duas questões foram equacionadas por Johnny com êxito: a identificação e liderança dos grupos pró-nazistas; e a neutralização das atividades planejadas, que incluíam espionagem e sabotagem visando à explosão de indústrias de material militar e estratégico, bem como de instalações críticas voltadas para energia — como capitão Burger, exerceu robusta autoridade sobre os grupos, impedindo-lhes de causar danos à infraestrutura canadense. 

O agente Janowski. Em 1942, o superior de Johnny na Polícia Canadense o informou que a Polícia Provincial de Quebec deteve um espião alemão vindo do mar, por certo, por intermédio de submarino. Os dois agentes deslocaram-se imediatamente para a península de Gaspé, a 600 quilômetros de Montreal. Johnny e seu superior encontraram-se com o espião Wener Alfred Wlademar von Janowski que tinha o objetivo de instalar um canal rádio de comunicação para a rede de espionagem no Canadá transmitir informações para Berlim. 

Janowski tentou, de todas as formas, forçar ou convencer os canadenses a fuzilá-lo. Johnny utilizou sua longa experiência para — mediante conhecimento, experiência, astúcia e ameaça — dobrar um qualificado e experiente alemão, para que, preso e sob intensa vigilância, operasse o canal de comunicação para a Alemanha com informações do alto interesse dos canadenses e britânicos — um processo complexo e arriscado.

Tentativa de captura de submarino. A despeito das artimanhas e do disfarce de Johnny como o capitão Burger, nos grupos pró-nazistas canadenses, havia suspeita destes em relação a ele. A captura de um espião alemão que queria evitar a morte foi a oportunidade para fortalecer a ação de Johnny. Ele declarou que o principal líder espião na América do Norte — escolhido pelo próprio Hitler — visitaria Montreal e concordara em encontrar com três representantes dos grupos. Nesse encontro, o agente que buscava salvar a própria pele, expressou com segurança o apoio de Hitler às ações de Johnny e desempenhou um papel essencial para acalmar os inquietos e desconfiados integrantes dos grupos pró-nazistas.

Johnny fazia parte também do Clube Canadense-Germânico, composto por social-democratas e por comunistas. Johnny intensificou a interação com os comunistas e, para não correr risco na confiabilidade dessa militância, ingressou no Partido Trabalhista-Progressista, que era o antigo Partido Comunista do Canadá, o qual fora declarado ilegal.

Havia a suspeita de que o alemão-canadense Rolf von Linter era espião alemão, mas não era possível confirmar sem uso de violência — o que era proibido pela lei canadense. Depois de previa e secretamente acertado com o FBI, Johnny sequestrou von Linter enquanto dormia, envolvendo sua face com clorofórmio, transportou-o sedado para a fronteira e entregou-o para os americanos. Seis meses depois, von Linter foi julgado e condenado a 15 anos de prisão por espionar contra os Estados Unidos para a Alemanha.

O Canadá mantinha 24 campos de prisioneiros de guerra. O mais destacado era o Campo 44, que abrigava 750 oficiais alemães e prisioneiros problemáticos, dentre os quais sete dos maiores especialistas alemães em tecnologia submarina. Esses especialistas tiveram que abandonar um recém-projetado e recém-produzido submarino alemão quando era testado no mar do Norte. Os canadenses resgataram os tripulantes. O Reich os queria de volta. A inteligência naval canadense descobriu escondido em livros da Cruz Vermelha alemã destinado ao Campo 44, mensagens em código, mapas e dinheiro canadense e americano. Tratava-se de um plano de fuga para os sete especialistas. 

A inteligência naval pediu à Polícia Canadense apoio para permitir a fuga, por túnel, que ocorreria sob observação controlada. Quando os fugitivos chegassem ao lugar do resgate, seria feita uma tentativa de capturar o submarino. O plano era arriscado pois os sete especialistas alemães fugitivos seriam presos e substituídos por militares canadenses. Johnny foi convidado para chefiar o grupo de substitutos. Inicialmente, ele se negou, pois, como pertencia ao MI6 do Reino Unido, em missão do serviço secreto canadense, em caso de morte, os britânicos não concederiam aposentadoria para a viúva — e, nesse caso, Gerti, frágil e doente, ficaria completamente desamparada. A Polícia Canadense encaminhou Johnny para pleitear a concessão ao Alto Comando da Armada. Depois de intensas e tensas tratativas, Johnny obteve um documento oficial com a garantia de aposentadoria para Gerti no caso de seu falecimento na missão. Johnny aceitou comandar o grupo substituto. A missão foi cancelada porque outro plano de fuga por túnel ocorreu antes, gerou alarme e os próprios submarinistas alemães presos abortaram a fuga.

Em 27 de abril de 1945, Johnny e Gerti embarcaram de volta para Londres.

A Comissão de Controle. A última missão de Johnny no MI6 foi na Alemanha. Acompanhou os britânicos no pós-guerra, nos trabalhos de ‘desnazificação’ e reorganização do território alemão sob responsabilidade dos britânicos. Johnny contribuiu para a recuperação de instalações industriais. Como ilustração pode ser mencionado o parque siderúrgico da Krupp, em Essen, que antes de entrar em estado de ruínas, chegou a empregar 150 mil trabalhadores. A Grã-Bretanha tentava recuperar as instalações e a produção, mantendo 6 mil trabalhadores nas linhas de montagem, manufaturando principalmente equipamento ferroviário. Como alemão e, especialmente, como profundo conhecedor das idiossincrasias humanas, Johnny teve papel relevante na fase inicial do processo.

O crepúsculo. Johnny forçou seu retorno para Londres e, no final de 1945, recebeu duas propostas de missão para o MI6: a volta para a Alemanha ou a ida para o Cairo. Johnny declarou: 

“Mr. Vivian, eu me demito! Pague minha volta e a de Gerti para o Canadá e me demito do MI6 neste exato momento.” [Johnny, pág. 464]

Assim, em 21 de agosto de 1946, Johnny e Gerti se abraçavam na proa do navio “S. S. Cavina”, deslocando-se de Liverpool para Montreal. Johnny, com 52 anos disse para Gerti, de 26: 

“... Também estou feliz! ... Tem sido uma aventura, uma luta e tanto, mas nunca tediosa. Lá adiante, Gerti, a alguns milhares de milhas de distância, estão nossas novas esperanças, nossos novos sonhos e nosso novo lar, no Canadá. Vamos nos tornar canadenses, vamos nos estabilizar e aproveitar as muitas lembranças boas e as novas experiências como civis.” [Johnny, pág. 466]

Chegando em Quebec, no Canadá, Johnny comprou uma pousada em condições precárias. Com os conhecimentos de carpintaria e hidráulica, reformou-a, transformando-a em uma acomodação de primeira categoria, incluindo um apartamento para ele e Gerti e os demais para aluguel.

 

Com o início da Guerra Fria, em que o mundo democrático era confrontado pelo autoritarismo comunista, Johnny achou que seu único trabalho deveria ser informar aos canadenses os planos e as agruras resultantes do sistema soviético. Para inquietação da Polícia Canadense, do MI6 britânico e do FBI, Johnny partiu em uma viagem solitária para denunciar a ameaça comunista, adotando o codinome de “Capitão Johnny X”. Disso resultaram convites para palestras em vários lugares de Quebec, Ontário e na costa leste canadense. Recusava-se a ser remunerado, pedindo apenas que pagassem as despesas com transporte e hospedagem. Integrantes do Partido Comunista Canadense passaram a ameaçá-lo verbalmente e por escrito. Intimorato, ele seguiu em frente. A Polícia Canadense destacou agentes para sua segurança.

A refugiada húngara Charlotte Akontz ou “Sári”, que estivera presa durante a guerra aportou no Canadá e foi contratada como assistente e como companhia para Gerti.

Gerti jamais renunciou à maternidade. Em 1950, durante uma apresentação de teatro, passou mal e desmaiou no banheiro. Perdeu a criança e ficou inconsciente por 5 dias. O médico informou à família que graças a um grave problema nos rins e no fígado, ela jamais deveria ter tentado ser mãe; e agora teria poucos meses de vida. Johnny interrompeu as atividades de palestra para ficar com a esposa. Gerti morreu em 23 de setembro de 1951, aos 31 anos nos braços do marido. As últimas palavras foram um pedido para que Johnny se casasse novamente.

Johnny interrompeu as atividades de palestras por algum tempo depois da morte de Gerti. Era um homem atormentado, passando por uma intensa e agonizante crise mental. Há a suposição que tentara o suicídio em frente a um bonde, mas foi arrastado na última hora por um transeunte.

Johnny retomou as palestras e formou uma organização chamada Cruzados Contra o Comunismo, que aparentemente durou pouco tempo. Paralelamente, enviou uma correspondência para J. Edgar Hoover, o titular do FBI americano, oferecendo seus serviços de combate ao comunismo. Daí surgiu a interação com agentes do FBI, que possibilitaram a identificação por Johnny de 25 agentes comunistas em um álbum de fotografias. Ele forneceu informações sobre o passado desses agentes, os serviços de inteligência para os quais trabalhavam e algumas de suas missões. Além disso, Johnny concedeu entrevista para os agentes do FBI, que abrangeram 94 páginas e cobria grande parte de sua vida.

Após a morte de Gerti, para deixá-lo na solidão requerida, Sári mudou-se de cidade. Porém em 1952, Johnny procurou Sári, propôs-lhe núpcias e casou-se com ela. Mais tarde, veio a declarar que esse casamento foi o maior erro de sua vida.

O capitão Johnny X continuou com os discursos anticomunistas e contatos correlatos com a Polícia Canadense e com o FBI até os 70 anos. Em 1967, submeteu-se a uma cirurgia por causa de úlcera e em 1974 teve um ataque cardíaco. Em 1979, depois de uma queda quebrou o fêmur direito e passou a utilizar um andador. Em 2 de dezembro de 1980, John Henry de Graff, o Johnny, morreu de isquemia miocárdica aguda, doença cardíaca coronariana avançada e infarto. 

Vale ressaltar que “um registro no jornal Post Standard, de Syracuse, indicava que na opinião das autoridades canadenses, Johnny era o maior agente de contrainteligência da história moderna.” [Johnny, pág. 481]

De fato, “toda a questão de Johnny de Graff na história da espionagem na Argentina, no Brasil, no Canadá, na China, na Alemanha, na Manchúria, na Romênia, no Reino Unido, nos Estados Unidos e na antiga União Soviética é bizarra. Se Johnny não foi o maior agente de contrainteligênia da história moderna certamente foi um dos agentes de contrainteligência mais sortudos da história moderna.” [Johnny, pág. 481]

 

______________________

Fonte:

Johnny: a Spy’s Life. R. S. Rose and Gordon D. Scott. Penn State University Press, State College, 2010.

 

 

# # # # # 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Problemas brasileiros cruciais

Diante da análise cuidadosa da atual conjuntura, formulada por um fraterno companheiro, com ênfase para as notícias eivadas de falsidade ou ...