sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Palavras alusivas ao 40º aniversário da Turma Octávio Jost – IME80

(Reconstituição a posteriori, com pequenas correções ou acréscimos)


Prezados amigos,

 

Determina o manual de liturgia de eventos que, em situação similar, o orador deva proferir suas palavras com a leitura de discurso previamente formulado para que não haja escorregão no cumprimento desse encargo.

Não tive a oportunidade de elaborar o texto. Vou falar aquilo que me vem à mente em tão relevante celebração.

Então, o que posso transmitir? Poderia relembrar acontecimentos pós-formatura como os quatro anos passados na Amazônia, fazendo obras nas fronteiras da Venezuela, da Colômbia e do Peru; ou os dois anos vivenciados no Oriente Médio, na condição de Adido Militar no Irã; ou os poucos dias nos quais visitei o complexo industrial-militar da Rússia, na Sibéria; ou ainda pequenos estágios na Universidade de Urbana-Champaign e na Universidade de Pequim. 

Porém, renuncio ao pecado da presunção e da soberba, para me fixar no tempo passado no Centro Tecnológico do Exército. Em lá chegando, encontrei 105 engenheiros militares formados aqui, neste excelso Instituto (e, também, da ordem de 60 engenheiros, na condição de civis, sendo a metade deles com o curso de doutorado). Os engenheiros militares tinham nas veias a mesma oxigenação que os integrantes de nossa querida Turma Octávio Jost, qual seja, a mesma formação apurada que cada ser humano e engenheiro aqui presente recebeu na Casa da Engenharia Militar.

Permitam-se o testemunho do que presenciei nos três anos passados no CTEx. No âmbito de algumas dezenas de projetos e resultados de Pesquisa & Desenvolvimento, aqueles engenheiros militares entregaram para a Força Terrestre brasileira seis artefatos bélicos — alguns dentre eles de uso dual — que jamais foram pesquisados, desenvolvidos e produzidos no Hemisfério Sul, por técnicos e cientistas nacionais e em parceria com empresas majoritariamente nacionais. Tenho a certeza de que esse é o nível intelectual, científico e profissional que baliza todos os integrantes da Turma Octávio Jost.

Esse testemunho aparentemente desconectado de nosso evento se justifica por uma razão singular, conquanto única; contudo, plural pelos envolvimentos institucionais e pessoais. Como bem sabemos, dentre os integrantes de nossa Turma celebrante, mais de 20 companheiros trabalharam ou ainda trabalham na Petrobrás. Pois bem, essa extraordinária empresa financiou um dos projetos do CTEx, concebido e empreendido pelo coronel engenheiro militar Luís Depine de Castro, voltado para a pesquisa de fibra carbono, a partir dos rejeitos da indústria petrolífera. 

O coronel Depine fez doutorado no Reino Unido e abraçou essa causa no Brasil, como coordenador desse projeto no CTEx, na parceria com a Petrobrás. Ao longo de mais de uma década, ele gerenciou a instalação no CTEx, do laboratório de pesquisa — com investimentos daquela empresa petrolífera de montante superior a 50 milhões de reais — e paralelamente orientou a formação de 5 doutores, na COPPE/UFRJ, dentre os engenheiros militares do CTEx, voltados para a atividade correlata. Como resultado, o Brasil foi inserido no rol dos poucos países do mundo com capacitação para produzir fibra carbono.

Durante alguns anos subsequentes, a parceria do CTEx com a Petrobrás foi quase completamente encerrada. E agora com a motivação oriunda da Presidência da República, sobretudo para a demanda de grafeno, a Petrobrás e o Exército, com participação do DCT, do IME e, naturalmente, do CTEx estão concluindo tratativas para retomar essa fundamental pesquisa de alcance estratégico para empresa financiadora e para o Brasil.

Escusando por me estender nessa digressão, entendo que, de forma direta ou indireta, há a interação de algumas dezenas de integrantes da Turma Octávio Jost com os engenheiros do CTEx, todos oriundos do berço da Engenharia brasileira.

Permitam-me agora passar aos agradecimentos que devem permear nossa celebração. Inicialmente, gostaria de expressar homenagem ao amigo Alvarenga, por dedicar parcela de seu precioso tempo para planejar e executar este evento. O alcance de seu trabalho pode ser medido pela superior quantidade de amigos que aqui compareceram.

É fundamental agradecer ao Comandante do IME, general Galdino, por colocar a estrutura do Instituto plenamente voltada para nossos objetivos. Ele não pôde estar aqui porque participa de reunião no DCT em Brasília, mas teve a gentileza de nos enviar uma mensagem de justificativa por sua ausência e de cumprimentos pela celebração do 40º aniversário de nossa formação. O general Galdino está representado pelo coronel Pacheco que nos recebeu com insuperável distinção. Sua presença é significativa porque ele é dos integrantes do universo dos 105 engenheiros que mencionei. Nossa homenagem e gratidão ao Comando do IME, nas pessoas do general Galdino e do coronel Pacheco.

Evidentemente, que devo agora me voltar para os seres humanos e, por óbvio, engenheiros de escol de nossa turma. Presto minha homenagem a todos. Manifesto a vocês, estimados amigos, o respeito e a admiração pelo talento e qualificação pessoal, intelectual e profissional. Em que pesem minhas limitações — oriundas de quem nasceu na campanha, lá na roça na fímbria do pantanal sul-mato-grossense, e saiu de casa aos 7 anos de idade para proceder a busca de seu destino —, declaro a honra e o privilégio de pertencer a esse conjunto. Com a redundância requerida ou dispensável, não hesito em expressar o respeito, a admiração, a gratidão e a homenagem a todos os integrantes da Turma Octávio Jost – IME80, incluindo os que estão ausentes, com ênfase para aqueles que estão em fase de recuperação médica, nessa ocasião magnífica de celebração do 40º aniversário de formação nas lides de Engenharia.

E por último, gostaria de formular duas sugestões. A primeira é que a última celebração de nossa Turma ocorra quando existirem apenas dois companheiros restantes, na ocasião complexa em que os demais já se tenham ido. A outra é que imediatamente após se configurar essa circunstância, seja ofertada ao IME uma placa para descerramento em singela solenidade. 

E que essa placa contenha o nome de nossa Turma, a data e a seguinte expressão:

              “A meta primacial do ser humano é a busca da paz e da harmonia. Essa meta só pode ser conquistada no âmbito da democracia. Por seu turno, esse sistema se alicerça em quatro pilares: a liberdade, a verdade, a coragem e a ética!”

Permitam-me convidar os amigos, engenheiro militar coronel Alvarenga e engenheiro Marcelo para fazerem o descerramento de nossa placa. Muito obrigado!

Aléssio Ribeiro Souto

IME, Rio de Janeiro, 29/Out/2021 






















[*] Nota esclarecedora.

Artefatos bélicos entregues para o Exército Brasileiro, que jamais tinham sido pesquisados, desenvolvidos e produzidos no Hemisfério Sul, por técnicos e cientistas nacionais, em parceria com empresas majoritariamente nacionais:

1.     – Radar SABER M-60 (Sistema de Acompanhamento de alvo aéreo Baseado na Emissão de Radiofrequência);

2.     – Simulador SHEFE (Simulador de voo para Helicópteros Esquilo e FEnnec);

3.     – Sistema de arma REMAX (REparo de Metralhadora Automatizado X);

4.     – Sistema MTO (Módulo de Telemática Operacional);

5.     – Sistema MAGE (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica); e

6.     – Simulador NÃO-COM (Simulador de NÃO-COMunicações).

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